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segunda-feira

O dedo da Mulher X

O DNA do mindinho de uma mulher morta há mais de 30 mil anos revela uma espécie humana desconhecida
Peter Moon
Ela não é uma ET, mas também não é humana. A Mulher X, apelido dado por seus descobridores, pertence a uma “espécie humana não identificada”. Sabemos de sua existência por um fragmento de seu dedo mindinho, preservado por milhares de anos numa caverna no sul da Sibéria. A Mulher X viveu no auge da Idade do Gelo, entre 48 mil e 30 mil anos atrás. De seu povo, sabe-se apenas que dividiu o mesmo território de caça de mamutes e rinocerontes-lanosos com tribos de humanos e dos extintos neandertais. Mais nada. Não há esqueletos nem crânios.
A Mulher X é uma das descobertas mais insólitas da história da ciência. Desde 1856, quando o primeiro neandertal foi achado na Alemanha, todas as espécies da árvore evolutiva humana foram descritas a partir da anatomia comparada de dentes e esqueletos. Foi assim com as africanas Lucy e Ardi, apelidos de nossas remotas ancestrais descobertas na África e que viveram entre 4,4 milhões e 3 milhões de anos atrás. Foi assim com Luzia, a “primeira brasileira”, que viveu em Minas Gerais há 11 mil anos. Não foi assim com a Mulher X. Sua espécie pode ser a primeira identificada com o DNA de ossos, como anunciado na revista Nature.
O mindinho foi achado em 2008, por arqueólogos russos na caverna Denisova, nos Montes Altai, um conhecido sítio neandertal. Foi enviado ao geneticista sueco Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha. Pääbo é uma sumidade em DNA fóssil. Foi o primeiro a extrair e mapear o genoma dos neandertais e de mamutes. Entregou a análise do dedo a Johannes Krause. Com o resultado em mãos, Krause ligou para Pääbo: “É melhor você se sentar”, disse. “O dedo não é humano.”
"Acumulam-se evidências de que nossa árvore evolutiva tem ramos luxuriantes"
IAN TATTERSAL, antropólogo dos EUA
Krause estudou o DNA presente nas mitocôndrias, um órgão abundante nas células. Comparando-o ao de humanos e neandertais, Krause concluiu que aquele ser era duas vezes mais distante de nós que os neandertais, que viveram na Europa até 30 mil anos. O ancestral comum de humanos e neandertais viveu há 500 mil anos. Para Krause, os ancestrais da Mulher X – que nem mulher há certeza se era, mas uma criança de 5 a 7 anos – se afastaram de nossa linhagem há 1 milhão de anos (leia o quadro abaixo).
Tudo leva a crer que o povo de Denisova é uma nova espécie. Mas, antes de batizá-la, Krause e Pääbo aguardam a confirmação, que virá com o mapeamento do genoma, os genes do núcleo celular. “Há evidência muito forte de que estamos diante de uma nova espécie”, diz Krause.
Se for verdade, o povo de Denisova será a segunda espécie achada desde 2003, quando o Homo floresiensis foi descoberto na Ilha das Flores, Indonésia, onde viveu até 12 mil anos atrás. “Tendemos a achar que sempre fomos os únicos humanos no planeta. Mas se acumulam evidências de que nossa árvore evolutiva tem ramos luxuriantes”, diz o antropólogo Ian Tattersal, do Museu Americano de História Natural, em Nova York. Para Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, “a natureza testou vários formatos humanos. Nós somos os últimos sobreviventes”.
Foto: divulgação

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