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terça-feira

COPA DO MUNDO: TROCA DE FIGURINHAS

ESTOU DISPONIBILIZANDO ESTE ESPAÇO PRA QUEM TÁ A FIM DE TROCAR AS FIGURINHAS DA COPA DO MUNDO.
PODEM COLOCAR TELEFONE DE CONTATO AQUI MESMO, QUEM AINDA QUISER PODE SE REUNIR ALI NA FRENTE DA RENNER, SEI QUE TODOS OS SÁBADOS TEM UM PESSOAL QUE SE REUNE ALI PRA FAZER TROCA DE QUASE TUDO, MINHA AMIGA PAULA É UMA "RSRSRS" ABRAÇO PAULA
DEIXEM AS FIGURINHAS INTACTAS SE NÃO TEM GENTE QUE NÃO VAI QUERER.
FIGURINHA AMASSADA FICA FEIO NO ÀLBUM, MAS SE ALGUÉM ACEITAR TAMBÉM DEIXA O RECADO AQUI. DEIXEM AQUI ALGUMA DICA PRA QUE EU POSSA AJUDAR NESSAS TROCAS.
ESPAÇO PRA TODO PESSOAL QUE ADORA ESSA QUE É UMA FEBRE MUNDIAL.
NÃO ADIANTA ME PEDIR PRA TROCAR PORQUE EU NÃO TENHO, NÃO TENHO PACIÊNCIA....
É BOM FAZER AS TROCAS AGORA POIS A FIGURINHAS AINDA SÃO NOVINHAS À RECÉM COMEÇOU:


PRA QUEM TEM DIFICULDADES PRA ENCONTAR ONDE COMPRAR DEIXE AQUI UM RECADO PEDINDO DICAS DE LOCAIS DE COMPRA DAS FIGURINHAS.

UM ABRAÇO PRA TODOS.

segunda-feira

O criador do Skype se conecta ao Brasil

Niklas Zennström, um dos maiores empreendedores da Internet, se prepara para investir em companhias pontocom brasileiras. E mais: ele afirma que a revolução criada por sua empresa entra em uma nova fase

Por Carlos Sambrana e Ralphe Manzoni Jr.

Ouça um resumo da reportagem sobre os planos do criador do Skype no Brasil

No universo da tecnologia, alguns empreendedores são cultuados como lendas vivas na mente de milhões de pessoas. Bill Gates, o criador da Microsoft, sempre será lembrado por ter permitido a popularização dos PCs com o sistema operacional Windows. Steve Jobs, da Apple, já entrou para a história como aquele que tornou o uso da tecnologia mais amigável com o iPod e seus filhotes.
Há um terceiro visionário da era digital que caminha para figurar nesse rol de ícones. Seu nome é Niklas Zennström, 43 anos, o sueco que criou o Kazaa, site de compartilhamento de música e vídeo, e também o Skype, empresa de telefonia pela internet. Mais do que ter revolucionado a indústria do entretenimento e das telecomunicações, Zennström desafiou oligopólios com suas invenções.

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"Espero fazer grandes investimentos no Brasil " Niklas Zennström, fundador do Skype
Por isso, cada movimento desse pioneiro da web é acompanhado com atenção. E seu próximo passo será dado no Brasil.  À frente do Atomico, uma empresa de venture capital, cujo primeiro fundo de US$ 40 milhões foi criado em 2006, Zennström acaba de anunciar o lançamento de uma segunda leva de recursos no valor de US$ 165 milhões.
Com a meta de comprar companhias da internet, ele chega ao País na primeira semana de maio para analisar novos negócios no mercado nacional. “Espero fazer grandes investimentos no Brasil”, disse Zennström com exclusividade à DINHEIRO. O foco em empresas pontocom não significa que a revolução provocada pelo Skype esteja concluída.
Ao contrário. Na quinta-feira 25, a operadora de celular Verizon Wireless se tornou a primeira do mundo a iniciar a venda de celulares com o aplicativo Skype. E abriu as portas de um novo e bilionário mercado: o das ligações VoIP por telefonia móvel.
O desembarque de Zennström no Brasil não é recente. Sem fazer alarde, seus sócios e executivos estão analisando o mercado nacional há cerca de um ano e meio. O homem de confiança do empresário no País é o executivo Carlos Pires, que já havia trabalhado no Skype e participou do processo de lançamento de empresas como Nextel por aqui. Outro grande indicador das boas intenções de Zennström no Brasil é que seu outro sócio no Atomico, o americano Geoffrey Prentice, primeiro funcionário do Skype, tem visitado o País com frequência.

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Prentice (à esq.) e Pires, do atomico, investem em empresas iniciantes de internet, como a rede social LAST.FM
“Tenho ficado, em média, uma semana por mês no Brasil”, disse Prentice à DINHEIRO. “Quando cheguei aqui fiquei impressionado como os brasileiros usam internet.” Os investidores buscam companhias com grande potencial de crescimento, modelo de negócio inovador e uma equipe de profissionais com visão global. É um trabalho que se assemelha ao de um garimpeiro em busca de ouro. Prentice não dá pistas de seus alvos por aqui, mas cita o Buscapé, recentemente vendido por R$ 600 milhões para o grupo sul-africano Naspers, como um caso de sucesso da web nacional.
Identificar oportunidades é o grande desafio do Atomico. A cada mês,  o fundo recebe mais de 200 propostas de empresas buscando investimentos. Zennström, que se inspira em Ingvar Kamprad, criador da rede de móveis Ikea, e também no megainvestidor Warren Buffett, analisa cada detalhe com muita atenção. A primeira leva de investimentos realizada pelo Atomico, em 2006, prova que isso é crucial.
Uma das empresas compradas por Zennström foi uma comunidade online para aficionados por música chamada Last.FM. Foi um tiro certeiro. Criada em 2003, na Inglaterra, parte dela foi adquirida pelo Atomico em 2006 e, um ano depois, era vendida ao grupo CBS por US$ 280 milhões. Estima-se que o grupo tenha faturado 12 vezes mais do que aplicou. Mas nem sempre é assim.
Tempos atrás a equipe de Zennström foi procurada pelos fundadores do Playfish, site de jogos online. Mas ninguém acreditou muito no negócio e Zennström não pôs dinheiro na empresa. Em novembro do ano passado, a turma do Atomico voltou a ter notícias do site: o Playfish havia sido vendido por US$ 400 milhões para a empresa de games Electronic Art (EA).

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Josh Silverman, CEO do Skype: o executivo negocia com operadoras de celulares brasileiras
Competidor daqueles que custam a assimilar a perda de uma batalha, Zennström usa as provas de vela náutica ou de lanchas offshore, esportes que ele pratica com frequência, para relaxar e traçar seus planos. “É um esporte que requer estratégia, uso da tecnologia correta e proporciona muita adrenalina”, explica. E apostar em empresas embrionárias também é um “esporte” de alto risco. Para minimizá-los, o Atomico, que também tem Janus Friis, o cofundador do Skype, como sócio, trabalha de uma maneira muito peculiar.
A empresa geralmente compra até 30% da companhia escolhida e assume o papel de líder do negócio. A ideia é repetir a trajetória do Skype e transformar os sites em sucessos globais. Para isso, o Atomico conta com tentáculos espalhados pelo mundo inteiro. A equação é simples. Quanto maior o número de países em que estiver presente, maior o tráfego e, consequentemente, maior será o seu valor.
O trabalho de Carlos Pires aqui no Brasil é, além de encontrar boas oportunidades, fechar contratos com grandes portais para que abriguem os sites em que o Atômico investe. O iG, por exemplo, vai hospedar o WooMe, portal de relacionamento no qual é possível visualizar o parceiro em tempo real.

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Por mais que Zennström tente emplacar outros fenômenos da web, será difícil criar algo tão revolucionário como o Skype, empresa da qual ele voltou a se tornar sócio em novembro do ano passado. Comprado pelo eBay por US$ 3,1 bilhões, em 2005, em uma das maiores transações depois do estouro da bolha da internet nos anos 2000, ele mergulhou no limbo.
A falta de sinergia fez o site de leilões americano vender 70% da companhia para um grupo de investidores por US$ 1,9 bilhão. Uma briga na Justiça, que terminou em acordo, trouxe de volta os fundadores para o negócio. Se o Skype fosse uma empresa de telefonia tradicional, seria a maior do mundo.
Com 560 milhões de usuários, a operação cresce a uma velocidade impressionante: 400 mil novas pessoas baixam o software a cada dia. Se mantiver esse ritmo, até o final do ano, vai conquistar 110 milhões de novos consumidores. A China Telecom, maior operadora de telecomunicações do planeta, tem 215 milhões de assinantes de telefonia fixa, menos da metade do Skype.
Em 2009, ele foi responsável por 12% do tráfego de ligações internacionais do mundo. “O Brasil é um mercado-chave para o Skype”, declarou com exclusividade à DINHEIRO o CEO da empresa, Josh Silverman. No comando do Skype desde fevereiro de 2008, este fã do game Guitar Hero e pai de dois filhos tem a missão de continuar a revolução da telefonia começada por Niklas Zennström e Janus Friis, em 2003.

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Quando surgiu, o Skype foi declarado o inimigo público número 1 das empresas de telefonia fixa. Ele permitia que as pessoas se comunicassem pela internet de graça, o que fez com que milhões de pessoas abandonassem seus telefones para falar por meio do software. Bastava uma conexão à internet para evitar as tarifas das operadoras de telecom.
Agora, o Skype avança sobre as teles móveis, numa onda que promete ser bem maior do que a primeira. “A mobilidade é uma importante oportunidade para nós”, acredita Silverman. O executivo está de olho em um mercado de 300 milhões de pessoas que vão usar um aplicativo como o Skype até 2013. As receitas globais com esse tipo de serviço são estimadas em US$ 35 bilhões, segundo a consultoria norte-americana In-Stat.
Na semana passada, a mais ousada aposta do Skype neste terreno finalmente foi a campo. A maior operadora dos EUA, Verizon Wireless, começou a vender nove celulares com o popular aplicativo de voz pela internet. Os assinantes dos serviços de dados vão poder falar com outros usuários sem pagar nada. Isso significa que a Verizon Wireless vai perder receita com as chamadas.
Mas a companhia espera que o software Skype atraia novos assinantes para seu serviço de banda larga móvel para compensar esta queda. Não é uma atitude comum. Ao redor do mundo, a prática é bloquear o Skype nas redes 3G. É o que faz a AT&T, nos Estados Unidos, e a Deutsche Telekom, na Alemanha.
“Estamos em negociações com outras operadoras ao redor do mundo”, diz Silverman. “E as empresas de telefonia móvel brasileiras têm mostrado interesse.” O executivo, no entanto, não revela com quem tem conversado no Brasil. Atualmente, o aplicativo Skype pode ser encontrado em celulares iPhone, BlackBerry e Android. Até a Nokia, maior fabricante de aparelhos móveis do mundo, vai adotar o software em seus equipamentos que rodam o sistema Symbian. É um impulso de 200 milhões de smartphones espalhados pelo mundo – o que faltava para o Skype marcar presença em todos os sistemas operacionais que existem e, definitivamente, se tornar a ferramenta móvel mais usada ao redor do planeta.

Não faltará resistência a essa nova estratégia. Mas o Skype já enfrentou essa batalha com as operadoras fixas.  “O futuro da telefonia passa pela internet”, afirma João Paulo Bruder, analista de telecomunicações da consultoria IDC. Niklas Zennström quer agora revolucionar a telefonia móvel. Alguém duvida que conseguirá?


Entrevista: " O Skype ainda tem um tremendo potencial ”

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O sueco Niklas Zennström, considerado um gênio da internet por ter criado ícones como o Kazaa e o Skype, concedeu a seguinte entrevista à DINHEIRO:
Com as suas invenções, o sr. comprou briga com as gravadoras e as empresas de telefonia. Houve muita pressão?
Nunca tivemos a intenção de brigar com as gravadoras, isso apenas aconteceu. Criamos o Kazaa com o pensamento de que poderíamos transformar o modo como as pessoas escutavam música e assistiam a filmes. O problema foi que as gravadoras e os estúdios de cinema não compartilharam a nossa visão. Diversas vezes, tentamos marcar reuniões com eles para propor que o Kazaa tivesse planos de assinatura. Mas todos os nossos pedidos foram rejeitados.

O sr. não teve resposta?

Na época, só ouvi falar deles quando decidiram que eu era o inimigo público número 1 e resolveram nos processar. Uma lição que aprendi é que tempo é fundamental e que a revolução tecnológica aconteceu tão rapidamente que as gravadoras não conseguiriam se adaptar a esse novo modelo da noite para o dia.

Quanto tempo essa disputa durou?

Foram quatro anos e durante o processo foi uma forte pressão sobre nós. Essa briga terminou em 2006 e hoje temos uma boa relação com as gravadoras.

E quanto às empresas de telecomunicações? Elas reclamaram do Skype?
Nós nunca realmente tivemos uma briga com as empresas de telecomunicações. Mas nós somos amigos e inimigos ao mesmo tempo, já que o Skype movimenta um bom tráfego de dados para elas e também compete com elas no varejo.

Mas o Skype não é uma ameaça para as empresas de telecomunicações?
Se você opera numa indústria competitiva, qualquer competidor é uma ameaça. O Skype é uma ameaça para as empresas de telefonia porque tem uma oferta competitiva. Ao mesmo tempo, está fazendo parcerias com as operadoras, como a Verizon, nos EUA, que está incluindo o Skype em seus celulares. Neste caso, é uma oportunidade.

Por ter criado serviços gratuitos, muitos o chamam de Robin Hood da internet. O que o sr. pensa sobre isso?
Já escutei isso algumas vezes, mas as pessoas que dizem isso não me conhecem. O que eu faço é achar oportunidades, companhias e soluções que transformam a indústria, que permita ao consumidor fazer algo radicalmente barato e melhor com uma nova tecnologia.

Que empreendedores o inspiram?
Steve Jobs e Bill Gates. Ambos lideraram e criaram uma indústria. Também admiro o investidor Warren Buffett, uma pessoa muito sensata. Tudo o que ele diz faz muito sentido. Na Suécia, de onde venho, há muitos empreendedores para admirar, como Igvar Kamprad, fundador da Ikea. Mas, quando encontro empreendedores donos das empresas nas quais o Atomico investe, me sinto muito inspirado por eles também.

Como o sr. se sente sabendo que milhões de pessoas usam o Skype?
Uma das melhores coisas de ser um dos fundadores do Skype é que, em qualquer lugar do mundo aonde vou, as pessoas são muito agradecidas pelo que o Skype significa para elas. Elas podem manter contato com os amigos e com a família ao redor do mundo. Obviamente é algo que me deixa muito orgulhoso.

Falando nisso, o sr. ainda usa telefone?
Sim, o que significa que o Skype ainda tem muito potencial. Economizei muito dinheiro usando Skype no meu iPhone.

E quanto pretende investir no Brasil?
O Brasil é um mercado interessante e vibrante. Pessoalmente, acredito que há várias oportunidades. Mas não destinamos dinheiro para nenhum país específico para que possamos investir nas melhores oportunidades. Então, espero fazer grandes investimentos no País.


Foi um erro vender o Skype para o eBay?
Não. Naquela época, muitas companhias estavam interessadas em comprar o Skype. Gerenciamos o processo para conseguir um bom preço. Todos os acionistas ficaram felizes com o resultado. No ano passado, o eBay vendeu a maioria das ações do Skype por acreditar que havia poucas sinergias.  Agora, estou de volta como acionista. Acredito que o Skype ainda tem um tremendo potencial.

Fonte: Istoé Dinheiro

Gol contra no Twitter

O caso da Locaweb expõe os riscos das empresas que não têm política e uma estratégia para as redes sociais

Por Ralphe Manzoni Jr.
Se fosse um vídeo, poderia ser comparado a uma videocassetada.  Um programa de tevê, a um quadro dos “Trapalhões”. Mas foi uma cena da vida real na internet. No domingo 28, o diretor comercial da empresa de hospedagem de sites de internet Locaweb, Alex Glikas, usou o Twitter para fazer um ato tão habitual aos brasileiros: comemorar a vitória do seu time “zoando” com os amigos.
 Animado com a vitória do seu Corinthians sobre o São Paulo por 4 X 3, Glikas usou palavrões para provocar os torcedores adversários. Por si só, trata-se de uma atitude de gosto duvidoso. Mas um detalhe tornou a situação ainda mais bizarra: a Locaweb, da qual Glikas é diretor, havia desembolsado R$ 600 mil para estampar sua marca nas mangas da camisa do São Paulo, o alvo das brincadeiras de seu funcionário. Resultado: na terça 30, Glikas foi demitido.
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Em apenas dois dias, foram publicados no serviço de microblog 3,5 mil mensagens sobre o caso. Elas atingiram 1,7 milhão de pessoas, de acordo com levantamento exclusivo realizado para DINHEIRO pela consultoria de mídias sociais e.Life. “Este é um caso exemplar de como não cuidar de seus canais na rede social”, afirma Alessandro Lima, CEO da e.Life.
É verdade. A começar pela confusão entre a figura do torcedor e do diretor. Apesar de Glikas usar sua conta pessoal no serviço de microblog, ele, em todas as suas mensagens, fazia referência à Locaweb. Além disso, a empresa em que trabalhava não tinha nenhuma política orientando os funcionários sobre como se comportar nas redes sociais. Só agora começa a pensar no assunto.
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A presença nas mídias sociais, como o Twitter, blogs, YouTube e Orkut, é vital para as empresas se relacionarem com os consumidores, principalmente os mais jovens. De acordo com dados do Ibope Nielsen Online, 86% das pessoas que acessam a internet no Brasil navegam pelas comunidades online. A trapalhada da Locaweb é mais uma lição para quem quer se aventurar neste novo mundo: se “tuitar”, não torça.

Fonte: Istoé Dinheiro

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Três diplomas no tempo de um

A Uniban e a Uninove lançam um pacote universitário que promete graduação e pós em quatro anos. O MEC questiona, mas o que diz o mercado?
Marina Franco
Rogério Cassimiro
PREÇO BAIXO
Alunos em um dos campi da Uniban, em São Paulo. O pacote custa mais barato do que fazer os cursos separadamente
Depois de 24 anos na Polícia Civil, o paulistano Ulisses Marques, de 46 anos, decidiu retomar um antigo sonho: iniciar uma carreira profissional como contador. Prestou o processo seletivo da Universidade Nove de Julho (Uninove) em 2007 e agora cursa o sétimo semestre de ciências contábeis. Não só. Há dois anos faz uma pós-graduação a distância. Isso é possível porque nos primeiros anos da graduação ele fez aulas extras que lhe valeram um diploma de formação superior chamado curso sequencial de gestão contábil. Graças a esse truque (que é perfeitamente legal), ao fim de quatro anos ele deixará a Uninove com três diplomas: o sequencial, a graduação e a pós. E isso já está mudando sua vida. Marques deverá ser efetivado neste ano como contador da Secretaria de Relações Institucionais do Estado de São Paulo, onde faz estágio. “Os cursos simultâneos são puxados”, diz. “Mas com eles aproveito o tempo e tenho chance de concorrer a cargos maiores.”
Marques está aproveitando uma novidade universitária: os pacotes de graduação com pós a preço baixo. Na Universidade Bandeirante de São Paulo, a famosa Uniban de Geyse Arruda, custa R$ 299 a mensalidade da graduação em administração e R$ 198 a mensalidade da pós na mesma disciplina. O segredo do preço com desconto é que o aluno faz os dois cursos ao mesmo tempo, o que é bom para a Uniban. O aluno pode fazer graduação em uma área (psicologia, por exemplo) e pós em outra totalmente diferente, como pedagogia. Na Uninove, a primeira a oferecer o pacote com pós, essa possibilidade não existe. As especializações são restritas à área do curso sequencial escolhido pelo aluno. Apesar de a oportunidade ser vista com bons olhos pelos estudantes, poucos conseguem aguentar o ritmo de estudos. Neste semestre, apenas 180 alunos da Uninove fazem os cursos simultaneamente. Na Uniban, que começou seu programa neste ano, não há aumento de carga horária. Os alunos fazem graduação e curso sequencial sem passar mais tempo na escola. O Ministério da Educação não entendeu como se faz isso sem reduzir a carga curricular e notificou as duas universidades. “Está errado. Eles terão de desmembrar os cursos”, afirma a secretária de Educação do Ensino Superior, Maria Paula Dallari Bucci.
Se as universidades terão de se explicar ao governo, a questão do ponto de vista dos alunos é outra: qual é o valor pedagógico desses pacotes acadêmicos? Eles realmente ensinam?
Os cursos combinados nasceram de uma demanda do mercado. As empresas precisam de mão de obra qualificada. E rápido. “Pegar uma pessoa que fez dois anos de graduação e dois anos de pós é melhor do que alguém que não tem formação”, diz Rodrigo Kede, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef-SP) e diretor financeiro da IBM. Com o diploma do curso sequencial, o estudante consegue salários melhores para financiar sua educação superior.
180 alunos da Uninove já fazem os cursos simultâneos
de pós e graduação neste semestre
Segundo um levantamento da Fundação Getulio Vargas, a cada ano de qualquer estudo, os salários podem subir 15%. E a chance de conseguir um emprego aumenta 3,3%. Mas essa não é a única coisa a ser considerada ao escolher um curso. Márcia Vazquez, consultora de carreira da Thomas Case, diz que esses cursos compactos estão voltados à prática da profissão, e os alunos podem ficar em desvantagem teórica em relação a outros estudantes. O professor Romualdo Portela, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), diz que esses cursos partem da ideia de que a teoria pode ser dispensada. “Não existe boa formação sem teoria”, afirma.
Consultores e especialistas em recrutamento aconselham que o estudante se forme na graduação e faça pós alguns anos depois, já com experiência profissional. “Você não quer só uma linha a mais em seu currículo. Quer conhecimento para ajudar sua empresa a ter resultados melhores”, diz Constantino Cavalheiro, diretor de uma divisão do portal de empregos Catho Online. Para Luiz Roberto Calado, vice-presidente do Ibef, os pacotes não garantem bons empregos. “O mercado sabe diferenciar a formação rápida da formação abrangente.”
A Uniban se diz tranquila quanto à legalidade de sua oferta e diz que está disposta a fazer adequações necessárias para garantir a qualidade de ensino. Ela tem até o dia 30 de abril para responder ao MEC. A Uninove afirma que foi questionada pelo MEC em setembro de 2007, um ano depois de lançar o sistema. Mas diz que três meses depois recebeu uma resposta da Secretaria de Educação Superior (Sisu) confirmando que não havia irregularidades. Mesmo assim, as críticas se multiplicam. “Não se pode falar em uma pós-graduação quando não houve conclusão de uma graduação”, diz o presidente da OAB, Ophir Cavalcante. O presidente do Conselho de Enfermagem de São Paulo, Claudio Porto, ficou surpreso ao saber que a Uniban oferecia pós durante o 4o ano da graduação. “Liguei para a Uniban. Eles disseram que o modelo não vingou e vai ser retirado do site”, disse. Até o fechamento desta reportagem, o curso ainda era oferecido no site.

Três em um
Os pacotes oferecidos pela Uniban e pela Uninove conseguem oferecer três diplomas (curso sequencial, graduação e pós) em quatro anos. Numa universidade tradicional, levaria ao menos oito
SEQUENCIAL
Dá diploma para uma área específica de uma profissão, como redação de normas (Direito) ou cuidados geriátricos domiciliares (enfermagem). Permite fazer uma pós
GRADUAÇÃO
é o curso de bacharelado ou licenciatura tradicional. O diploma permite ao profissional ingressar em mestrado ou doutorado
PÓS LATO SENSU
Oferecida pelos pacotes, equivale a uma especialização. É diferente da pós stricto sensu, que inclui mestrado e doutorado
  
Reprodução

Blogueira cubana pede a Lula para vir ao Brasil

Yoani Sánchez escreve carta para o presidente brasileiro pedindo que a ajude a obter a autorização do governo cubano para viajar
Juliano Machado
  Divulgação
DE CUBA, COM CARINHO
Yoani Sánchez posa com Dado Galvão, segundo o livro lançado em outubro no Brasil
A blogueira cubana Yoani Sánchez, uma das principais dissidentes do regime dos irmãos Castro, escreveu uma carta em que pede ajuda ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para poder visitar o Brasil – ela tem sido sistematicamente impedida de viajar para fora de seu país. Yoani pretende comparecer à primeira exibição de um documentário feito pelo brasileiro Cláudio Galvão da Silva, o Dado,(www.dadogalvao.org) sobre a vida dela e os movimentos de oposição em Cuba, entre eles as chamadas Damas de Branco. O evento deve ocorrer em junho. Na carta endereçada ao presidente, datada de 14 de março, Yoani cita a relação próxima entre Lula e os Castros para que ele interceda a seu favor. “O senhor deu recentes mostras de possuir grande confiança na boa fé do governo cubano. Alimento a esperança de que, talvez, aqueles que governam meu país queiram manter viva esta sua confiança e – para não frustrá-lo – atendam a seu pedido de que me deem a autorização para visitar o Brasil” (leia a íntegra da carta em espanhol. Ao fim deste texto, a carta está traduzida para o português).
Por telefone, Yoani afirmou que a carta não tem “intenção midiática” e que espera “tocar as fibras sensíveis e interiores” do presidente brasileiro. “Ultimamente Lula tendeu a se aproximar de uma ideologia partidária. Minha carta tenta estender uma ponte entre ele e a cidadania cubana.” Uma cópia está com o documentarista Dado Galvão, que foi a Cuba em dezembro do ano passado para participar de um festival e aproveitou a viagem para contar a história da blogueira. “Foi minha mãe quem me falou de Yoani, dizendo que eu precisava falar das coisas que ela estava fazendo por Cuba”, diz Dado. Ele pretende entregá-la ao governador da Bahia, Jaques Wagner, um dos políticos mais próximos de Lula e que poderia convencer o presidente a considerar o caso de Yoani. A audiência com Wagner ainda está sendo negociada, mas pode ocorrer na próxima semana. Dado vive em Jequié, uma cidade de 150 mil habitantes no sul da Bahia, a 360 quilômetros de Salvador. É para lá que Yoani pretende ir para a estreia do documentário. “Estou convencida de não encontrar dificuldades para obter o visto de sua embaixada (do Brasil) em Havana, mas também tenho certeza de que as autoridades de meu país vão voltar a me negar a autorização de saída”, escreve Yoani.
O pedido de Yoani deve colocar Lula novamente em uma situação delicada. Há um mês, ele visitou Cuba e desembarcou em Havana no mesmo dia que o dissidente Orlando Zapata Tamayo morreu após uma greve de fome de 83 dias. Na ocasião, um grupo de opositores ao regime enviou uma carta pedindo a Lula que chamasse a atenção da comunidade internacional para a situação dos presos políticos em Cuba. Lula disse não ter recebido a carta. “As pessoas precisam parar com o hábito de fazer carta, guardar para si e depois dizer que mandaram”, afirmou. “Se essas pessoas tivessem falado comigo antes, eu teria pedido para ele (Zapata) parar a greve e quem sabe teria evitado que ele morresse.” Na conversa com ÉPOCA, Yoani classificou as declarações de Lula como “infelizes” e as creditou “a uma base na desinformação e à cega confiança nas pessoas que governam Cuba”. Segundo ela, “Lula já deve ter refletido melhor sobre o que aconteceu aqui”.
Esta não é a primeira vez que Yoani tenta vir ao Brasil. Em outubro, ela foi convidada para o lançamento da versão em português de seu livro De Cuba, com carinho. Até mesmo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso enviou uma carta ao governo cubano pedindo que Havana concedesse uma saída temporária a Yoani. Não adiantou nada. Ela não viaja para o exterior desde 2004 – já pediu autorização seis vezes, todas sem sucesso. Mas não perde o otimismo. “Enquanto o presidente Lula não mostrar que desconsiderou meu pedido, vou dar crédito a ele.” 
Leia a tradução da carta de Yoani Sánchez
Havana, 14 de março de 2010

Ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de Brasil

Uma vez alguém me contou que os barcos em que se traficavam escravos africanos deixavam parte de sua carga em Cuba e outra na costa atlântica do Brasil. Assim, separavam irmãos, pais e filhos e amigos de toda uma vida. Assim, nessa bifurcação, nossos povos compartilham a mesma raiz.

Por isso nos parece tão perversa qualquer coisa que tente nos separar, por isso sonhamos que algum dia haja livre circulação entre todas as nossas nações americanas, por isso não consigo entender por que as autoridades de meu país me impedem de visitar o seu.

Na primeira ocasião, em outubro de 2009, pretendia fazer o lançamento do meu livro De Cuba com carinho, publicado pela editora Contexto. O escritório de migração que se ocupa de conceder as autorizações de saída do país aos cidadãos cubanos me informou que eu não estava autorizada a viajar. Esta era a quarta vez que me negavam esta autorização. Anteriormente, me haviam impedido de viajar à Espanha, para receber o prêmio Ortega y Gasset (
de Jornalismo), em seguida para a Polônia e depois para os Estados Unidos, onde receberia a menção especial do (prêmio) Maria Moors Cabot na Universidade Columbia. Fui convocada pela segunda vez para ir ao Brasil, agora para o lançamento de um documentário sobre minha pessoa, feito por um grupo de diretores em Jequié (no interior da Bahia). Estou convencida de não encontrar dificuldades para obter o visto de sua embaixada em Havana, mas também tenho a certeza de que as autoridades do meu país voltarão a me negar a autorização de saída.

O senhor deu recentes demonstrações de possuir grande confiança na boa fé do governo cubano. Alimento a esperança de que, talvez, aqueles que governam meu país queiram manter viva esta sua confiança e – para não frustrá-lo – atendam a seu pedido de que me deem a autorização para visitar o Brasil. O senhor somente estaria pedindo em meu nome o que para qualquer brasileiro – e para qualquer ser humano – é um direito inalienável.

Desculpe-me que lhe tenha roubado o tempo que o senhor levou para ler esta carta e me desculpe também por tê-la escrito em espanhol. Não me desculpe, porém, pela minha crença de que o senhor deseja para os cubanos os mesmos direitos que deseja ver cumpridos entre os brasileiros.

Yoani Sánchez Cordero 

  Divulgação 
DEPOIMENTO
Yoani falou para a câmera do documentarista Dado Galvão em dezembro. Confira mais fotos das filmagens em Cuba

O dedo da Mulher X

O DNA do mindinho de uma mulher morta há mais de 30 mil anos revela uma espécie humana desconhecida
Peter Moon
Ela não é uma ET, mas também não é humana. A Mulher X, apelido dado por seus descobridores, pertence a uma “espécie humana não identificada”. Sabemos de sua existência por um fragmento de seu dedo mindinho, preservado por milhares de anos numa caverna no sul da Sibéria. A Mulher X viveu no auge da Idade do Gelo, entre 48 mil e 30 mil anos atrás. De seu povo, sabe-se apenas que dividiu o mesmo território de caça de mamutes e rinocerontes-lanosos com tribos de humanos e dos extintos neandertais. Mais nada. Não há esqueletos nem crânios.
A Mulher X é uma das descobertas mais insólitas da história da ciência. Desde 1856, quando o primeiro neandertal foi achado na Alemanha, todas as espécies da árvore evolutiva humana foram descritas a partir da anatomia comparada de dentes e esqueletos. Foi assim com as africanas Lucy e Ardi, apelidos de nossas remotas ancestrais descobertas na África e que viveram entre 4,4 milhões e 3 milhões de anos atrás. Foi assim com Luzia, a “primeira brasileira”, que viveu em Minas Gerais há 11 mil anos. Não foi assim com a Mulher X. Sua espécie pode ser a primeira identificada com o DNA de ossos, como anunciado na revista Nature.
O mindinho foi achado em 2008, por arqueólogos russos na caverna Denisova, nos Montes Altai, um conhecido sítio neandertal. Foi enviado ao geneticista sueco Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha. Pääbo é uma sumidade em DNA fóssil. Foi o primeiro a extrair e mapear o genoma dos neandertais e de mamutes. Entregou a análise do dedo a Johannes Krause. Com o resultado em mãos, Krause ligou para Pääbo: “É melhor você se sentar”, disse. “O dedo não é humano.”
"Acumulam-se evidências de que nossa árvore evolutiva tem ramos luxuriantes"
IAN TATTERSAL, antropólogo dos EUA
Krause estudou o DNA presente nas mitocôndrias, um órgão abundante nas células. Comparando-o ao de humanos e neandertais, Krause concluiu que aquele ser era duas vezes mais distante de nós que os neandertais, que viveram na Europa até 30 mil anos. O ancestral comum de humanos e neandertais viveu há 500 mil anos. Para Krause, os ancestrais da Mulher X – que nem mulher há certeza se era, mas uma criança de 5 a 7 anos – se afastaram de nossa linhagem há 1 milhão de anos (leia o quadro abaixo).
Tudo leva a crer que o povo de Denisova é uma nova espécie. Mas, antes de batizá-la, Krause e Pääbo aguardam a confirmação, que virá com o mapeamento do genoma, os genes do núcleo celular. “Há evidência muito forte de que estamos diante de uma nova espécie”, diz Krause.
Se for verdade, o povo de Denisova será a segunda espécie achada desde 2003, quando o Homo floresiensis foi descoberto na Ilha das Flores, Indonésia, onde viveu até 12 mil anos atrás. “Tendemos a achar que sempre fomos os únicos humanos no planeta. Mas se acumulam evidências de que nossa árvore evolutiva tem ramos luxuriantes”, diz o antropólogo Ian Tattersal, do Museu Americano de História Natural, em Nova York. Para Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, “a natureza testou vários formatos humanos. Nós somos os últimos sobreviventes”.
Foto: divulgação

O que Joseph Ratzinger sabia?

O papa é acusado de acobertar casos de pedofilia quando cardeal. O Vaticano denuncia um complô
Juliano Machado Com Julio Lamas
L’Osservatore Romano
CRISE
O papa cumprimenta seu irmão, Georg, agora acusado de agredir alunos de um coral
A sucessão de escândalos de abusos sexuais envolvendo padres em vários países não está causando espanto entre os fiéis apenas pela gravidade dos atos em si, o que já seria compreensível. A preocupação sobre o futuro do catolicismo aumenta porque as denúncias mais recentes atingem, ainda que por enquanto indiretamente, a figura central da Igreja: o papa.
Talvez o caso mais complicado entre os que puseram Bento XVI em uma posição delicada seja o revelado na semana passada pelo The New York Times. O jornal americano teve acesso a uma investigação interna sobre o padre Lawrence Murphy, do Estado de Wisconsin. Ele teria abusado de até 200 crianças com deficiência auditiva entre 1950 e 1974, quando era capelão numa escola especial. Em 1996, o arcebispo de Milwaukee, Rembert Weakland, enviou duas cartas ao Vaticano em que denunciava o comportamento de Murphy. O destinatário era Joseph Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, órgão responsável por determinar ou não punições a sacerdotes. Nove anos depois, Ratzinger se tornaria o papa Bento XVI. Naquela época, ele não respondeu a nenhuma das cartas do arcebispo e ainda recebeu uma de Murphy pedindo para não ser punido porque se arrependera. Murphy morreu em 1998, sem nunca ter sido julgado por seus crimes.
Esse caso expõe uma característica comum à maioria das denúncias de pedofilia contra sacerdotes, inclusive no Brasil: a tentativa da Igreja de abafar os escândalos (leia o quadro abaixo). Além de Murphy, Bento XVI também é acusado de ter “poupado” um padre alemão, na época em que era arcebispo de Munique, em 1980. O sacerdote era Peter Hullermann, acusado de molestar uma criança em outra cidade. Ratzinger o aceitou em sua diocese e lhe recomendou apenas “terapia”. Só na semana passada, quase 30 anos após a denúncia, Hullermann foi expulso da Igreja. O momento do papa é tão ruim que até sua família traz problemas: seu irmão, Georg, admitiu que agredia alguns alunos num coral que ele dirigiu por três décadas.
Até agora a medida mais concreta tomada por Bento XVI ante o escândalo da pedofilia foi escrever uma carta endereçada aos fiéis da Irlanda. Lá, um relatório de uma comissão independente revelou que milhares de crianças foram violentadas em instituições de ensino católicas entre 1930 e 1990. No texto, ele diz se sentir “perturbado” pelas denúncias e que não deixava de “partilhar o pavor e a sensação de traição”. No entanto, nenhuma palavra sobre punição aos que abusaram, nem dentro da instituição e muito menos na Justiça comum (leia o artigo de Christopher Hitchens).
Alguns membros da Igreja já questionam se o celibato
não é um fator que leva ao abuso de menores
Alguns representantes do Vaticano enxergam uma perseguição ao papa, como se a revelação das denúncias fosse uma campanha para enfraquecê-lo. O vaticanista italiano Andrea Tornielli não concorda com isso, mas reconhece que o tratamento dado a Bento XVI é bem diferente do que tinha seu antecessor, João Paulo II, morto em 2005. “João Paulo II era um campeão de carisma, e por isso recebia críticas mais suaves que Bento XVI.” Por conta de seu passado como integrante da Juventude Hitlerista, Ratzinger nunca ganhou a simpatia do judaísmo e é visto como inflexível também por outras religiões. Seu envolvimento nas denúncias de abusos sexuais só fez piorar sua imagem.
Embora João Paulo II tenha enfrentado poucas denúncias de pedofilia em seu longo papado – a pior foi de Boston, em 2002 –, a forma como lidou com este escândalo não diferiu muito do que agora tem feito Bento XVI, afirma Tornielli. Só depois de muita pressão João Paulo II aceitou a renúncia do arcebispo Bernard Law, acusado de acobertar o caso, mas não fez nenhum comunicado público sobre o episódio. Karol Wojtyla confiou a investigação desses casos justamente a Ratzinger, que foi o prefeito da Congregação entre 1981 e 2005, até se tornar papa.
A dificuldade de lidar com a pedofilia é evidente. Há quem questione, dentro da Igreja, se o celibato não é um dos fatores que podem ter levado a essa situação. Há duas semanas, o arcebispo de Viena, Christoph Schönborg, escreveu um artigo, sem se referir abertamente à privação do sexo, dizendo que a Igreja precisava buscar na formação dos padres as causas dos abusos. Seu colega de Salzburgo, Alois Kothgasser, foi mais direto. “Os tempos e a sociedade mudaram. Por isso, a Igreja deve se perguntar se pode manter este modo de vida (o celibato) ou se algo deve mudar”, afirmou a uma rádio austríaca.
Esperar punições severas por parte do Vaticano aos pedófilos parece algo distante. Bento XVI ainda tem muito de Joseph Ratzinger a deixar para trás – como a decisão, então como prefeito da Congregação, de proibir bispos de contribuir com investigações sobre abusos sexuais de sacerdotes. Se não o fizer, corre o risco de ver sua Igreja ser corroída pelo pior dos segredos.

Milagres e milhões

Com promessas de cura e até de ressurreição, o apóstolo Valdemiro Santiago transformou sua Igreja Mundial num novo império evangélico
Mariana Sanches e Ricardo Mendonça. Com Juliana Arini, de Cuiabá (MT)
Rogério Cassimiro
CARISMA
De chapéu, uma de suas marcas, o apóstolo Valdemiro Santiago comanda um culto para 50 mil pessoas em
São Bernardo do Campo, São Paulo, em janeiro
– Uma das histórias que mais me impressionou (sic) foi de um homem que morreu. Como se diz no Nordeste, ele estava na pedra. A família já tinha recebido atestado de óbito. A filha dele chegou em mim na igreja, me abraçou e disse: “Se o senhor disser que ele está vivo, ele viverá”. O que houve ali foi pela fé dela. Comovido, respondi: “Então, está vivo”. Quando ela voltou para casa, estavam se preparando para velar o corpo e receberam a notícia de que o homem havia voltado à vida. Os médicos tentaram justificar, mas não conseguiram entender como o coração dele voltou a bater. Foi uma ressurreição.
O relato acima foi feito em 2009 pelo líder evangélico Valdemiro Santiago de Oliveira numa de suas raras entrevistas, concedida a uma publicação evangélica chamada Eclésia.
Alto, negro, extrovertido, de fala rouca cheia de erros de português e forte sotaque mineiro, Valdemiro, de 46 anos, é o criador, líder absoluto e autoproclamado “apóstolo” da Igreja Mundial do Poder de Deus. Caçula entre as neopentecostais, a igreja foi fundada em 1998, em Sorocaba, interior de São Paulo. Mineiro de Palma, região de Juiz de Fora, Valdemiro gosta de se definir como “homem do mato” ou “um simples comedor de angu”. Na pregação diária de bispos e pastores e no boca a boca de milhares de fiéis, é reverenciado como milagreiro. Além de afirmar ressuscitar os mortos, cultiva a fama de curar de aids, câncer, cegueira, surdez, tuberculose, hanseníase, paralisia, alergias, coceiras e dores em qualquer parte do corpo e da alma. Num domingo com três cultos, Valdemiro chega a apresentar mais de 30 testemunhos de cura. ÉPOCA tentou falar com Valdemiro durante dois meses. As solicitações foram feitas por meio de assessores e bispos e diretamente a ele, na saída de cultos. Em duas ocasiões, ele prometeu dar entrevista, mas nunca agendou.
Dissidência da Igreja Universal do Reino de Deus, a Mundial é a menos organizada das evangélicas. Seus templos têm instalações precárias. A pregação é classificada por alguns como “primitiva”. Há gritos, choros e performances espalhafatosas. Até suas publicações são visivelmente mais pobres que as das concorrentes. Apesar de fazer quase tudo no improviso, a Mundial já é considerada o maior fenômeno religioso do Brasil desde a criação da Igreja Universal, em 1977, sob a liderança do bispo Edir Macedo. Mais que isso, a Mundial começa a se firmar como ameaça ao império que a Universal ergueu no campo das neopentecostais.
Carismático, intuitivo, meio desafiador, meio fanfarrão, Valdemiro comanda uma estrutura que, de acordo com números da igreja, reúne 2.350 templos, cerca de 4.500 pastores e tem sedes em mais 12 países. Só em aluguéis de imóveis para cultos a Mundial gasta R$ 12 milhões por mês, segundo estima o diretor de compras da igreja, Mateus Oliveira, sobrinho de Valdemiro. Em número de templos, a Mundial superou duas de suas três concorrentes neopentecostais: a Internacional da Graça, do missionário R.R. Soares, e a Renascer, do casal Estevam e Sônia Hernandes. Nos últimos dois anos, a Mundial praticamente multiplicou por dez seu tamanho (em 2008, eram 250 templos). Mantido o atual ritmo de crescimento, ela ultrapassaria a Universal até 2012. A igreja de Edir Macedo afirma ter 5.200 templos e 10 mil pastores.
Uma característica nova na expansão da Mundial está naquilo que o sociólogo Ricardo Mariano, estudioso de religião na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, chama de “pescar no próprio aquário evangélico”. Estudos sugerem que a maior parte dos seguidores da Mundial veio de outras neopentecostais, principalmente da Universal. Poucos eram do meio católico, tradicional fornecedor de fiéis para denominações evangélicas. “Calculo que mais de 50% dos membros da Mundial saíram da Universal, uns 30% da Internacional da Graça e o resto das demais evangélicas ou outras religiões”, diz Paulo Romeiro, professor de teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor de um livro sobre a igreja.
Na cúpula da Mundial, a presença de ex-membros da Universal é expressiva. Estima-se que 90% dos bispos e até 80% dos pastores tenham sido formados por Edir Macedo. O próprio Valdemiro tem origem na Universal, onde atuou por 18 anos. O apetite com que a Mundial avança sobre a Universal aparece até na distribuição geográfica dos templos. Valdemiro tem predileção por instalar igrejas em imóveis que já foram ocupados pela Universal.
Parte do encanto de Valdemiro está na imagem messiânica que ele construiu em torno de si, contando histórias mirabolantes. A mais espetacular está no livro O grande livramento: ele descreve um naufrágio que sofreu em Moçambique em 1996, quando ainda era da Universal. Valdemiro diz que ele e três conhecidos foram vítimas de uma sabotagem, que fez a embarcação afundar a 20 quilômetros da costa. A partir daí, a história ganha ares cinematográficos.
Valdemiro na época pesava 153 quilos (anos depois, ele faria uma cirurgia de redução de estômago). Ele diz que deu os únicos três coletes aos colegas e começou a nadar a esmo. Diz ter nadado oito horas “contra forte correnteza”, “ondas gigantes” e cercado por “tubarões-brancos assassinos” e “barracudas agressivas”. Na travessia, prossegue sua narrativa, um pedaço de sua perna foi arrancado e seus olhos foram queimados por “águas-vivas gigantes”. Quando finalmente chegou à praia, diz ele, dormiu na areia e acordou nos braços de dois estranhos, “africanos seminus”. “Tive a clareza de que os anjos do Senhor haviam me visitado e me dado o livramento”, diz. Dos três companheiros, dois morreram e um foi resgatado. Na época, jornais noticiaram o naufrágio, mas muita gente na igreja duvidou do relato. Um bispo foi à África fazer uma sindicância, mas isso não sanou as dúvidas.
Valdemiro também conta outros três causos de “livramento”. Diz que, numa ocasião, caiu do 8º andar de uma obra, mas nada sofreu. Afirma também que, passeando de carro “na África”, uma bomba de um campo minado explodiu “arremessando nosso carro uns 3 metros para o alto”. Diz ainda que sofreu uma tentativa de assassinato, mas os “matadores profissionais” erraram os cinco tiros. “Assustados, jogaram o rifle para dentro do carro e fugiram”, afirma.

Como escolher sua TV 3-D

O que você tem de saber sobre os modelos que estão chegando ao Brasil
Bruno Ferrari
Hitoshi Yamada
LENTES MÁGICAS
O modelo demonstra TV 3-D da Sony no Japão. Sem os óculos, só um borrão
Em menos de 15 dias, os brasileiros poderão começar a experimentar uma nova realidade do mundo do entretenimento. As primeiras TVs com capacidade de reproduzir conteúdo em terceira dimensão chegarão aos varejistas. Por enquanto, teremos aparelhos apenas de dois fabricantes: Samsung e LG. Mas, até o final do ano, outras grandes – como Panasonic, Sony e Philips – apresentarão suas novidades no mercado local. Agora, a pergunta que se faz para toda nova tecnologia: vale a pena pagar pela novidade? A sensação de ver os gols da Seleção na Copa do Mundo da África do Sul como se o atacante Luis Fabiano estivesse dentro de sua sala vale o preço? Em termos de conteúdo, ainda há poucas ofertas em 3-D. Poucos títulos foram lançados em versão original tridimensional, como Avatar e Alice no País das Maravilhas. Mas a expectativa é que em breve esse cenário mude. São esperados novos filmes, programas de TV, games e canais especiais dedicados ao 3-D nas diferentes operadoras de TV por assinatura. O Brasil já teve duas experiências com 3-D. O desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro transmitido ao vivo em circuito fechado pela NET, em parceria com a Rede Globo, e a Fórmula Indy no Brasil, em parceria com a Bandeirantes. “A Globosat se prepara para realizar em futuro próximo testes com alguns programas de esportes e shows”, diz Roberto Primo, diretor de operações e tecnologia da empresa.
A experiência internacional sugere que as transmissões tridimensionais vão aumentar. No início deste ano, um canal inglês transmitiu um jogo de futebol em 3-D em TV aberta. Os Estados Unidos farão a estreia em abril, com o Master de Golf. E depois já embalam com a Copa do Mundo. O jogo inaugural, no dia 11 de junho, entre África do Sul e México, será transmitido ao vivo pela ESPN 3-D. O canal prometeu também jogos de esportes radicais, basquete e futebol americano. O Discovery, em parceria com a Sony e a empresa de tecnologia Imax, anunciou o primeiro canal exclusivo em 3-D. Começará no ano que vem, mas ainda só para os EUA. Os canais Fox e DirecTV anunciaram que terão parte de sua programação pronta para a terceira dimensão nos EUA já neste ano. É um sinal do que poderá acontecer por aqui.
A Samsung iniciará a venda de TVs 3-D na segunda quinzena de abril. Já tem preços e modelos definidos. Um combo incluirá TV LED de 40 polegadas, tocador de Blu-ray compatível com 3-D, home theater e dois pares de óculos 3-D. “O pacote sairá por R$ 8 mil”, diz Marcio Portella Daniel, diretor da divisão de consumo da Samsung.
É importante verificar se a TV faz a conversão do conteúdo convencional em 2-D para terceira dimensão. Os óculos custam em torno de R$ 250 e cada fabricante tem seu padrão de comunicação entre os óculos e as TVs. Não dá para usar os óculos de uma marca para ver a TV de outra. Por fim, há relatos de pessoas que têm enjoo e tontura vendo as imagens que saltam da tela. É bom verificar se você não sofre com isso. Passe numa loja em que haja uma demonstração e experimente antes de comprar.
Por dentro da TV 3-D

Como a tecnologia ajuda o cérebro a ver imagens tridimensionais
  Reprodução

1 - A câmera
A imagem é captada por uma câmera com duas lentes separadas por 6 cm, a distância média entre os olhos de um adulto
2 - Duas imagens
Cada uma das lentes capta um ângulo levemente diferente do objeto filmado (no exemplo, um cubo)
3 - A TV
No filme, as duas imagens diferentes do objeto são mostradas alternadamente, a uma velocidade tão alta que parecem dois cubos a olho nu
4 - Óculos
As lentes ficam transparentes ou opacas ao ritmo do filme. Quando a imagem vem do lado direito, a esquerda fica opaca. E vice-versa
5 - Cérebro
O cérebro junta as imagens, como faz com nossos olhos. Ele funde as imagens alternadas exibidas pela TV e constrói um objeto em 3-D

“A geração de ‘nativos digitais’ é um mito”

Para a educadora australiana, é uma ilusão acreditar que os mais jovens têm intimidade inata com as novas tecnologias – e pensar assim pode prejudicar a educação
Alexandre Mansur
A geração nascida e criada na internet, a partir dos anos 80, é vista com interesse no mundo. São os chamados nativos digitais. Vários especialistas vêm afirmando que esses jovens, por seu convívio precoce com a tecnologia, têm poderes especiais, como capacidade criativa, jeito para aprender o novo e tolerância para realizar várias tarefas simultâneas. Como nossas escolas se adaptarão a eles? E como eles competirão no mercado de trabalho? Diante dessas questões, a educadora australiana Sue Bennett dá uma resposta surpreendente. Para ela, os nativos digitais não existem. Não passam de um estereótipo inútil.

  ENTREVISTA - SUE BENNETT

  Divulgação
QUEM É
É diretora do Centro de Tecnologia em Educação da Universidade de Wollongong, na Austrália


O QUE FAZ
É uma das principais vozes céticas sobre o uso de novas tecnologias na educação. Já trabalhou nas universidades de Canberra, Central Queensland e Nacional da Austrália

ÉPOCA – Os nativos digitais – jovens nascidos depois de 1980 – são realmente diferentes?
Sue Bennett –
A questão é que deve haver alguma diferença entre as gerações. Mas não é nada tão expressivo quanto tem sido dito por alguns especialistas ou em artigos publicados na mídia. Além disso, nessa geração, existe uma variabilidade muito grande no contato com as tecnologias. As diferenças dentro dessa geração são tão grandes quanto o que os distinguiria da geração dos mais velhos.

ÉPOCA – Faz sentido falar de uma geração de nativos digitais, então?
Bennett –
Não acredito que esse rótulo tenha muita utilidade. Por que falar de um grupo específico da nova geração, com características semelhantes a outras pessoas de outra faixa etária? Cria a impressão de que todos os jovens têm uma intimidade inata com as tecnologias digitais. O que não é necessariamente verdade. Estudos recentes entre universitários australianos mostram que só 21% deles mantêm um blog e 24% usam redes sociais. Embora muitos usem uma vasta gama de tecnologias em sua rotina, existem claramente áreas em que a familiaridade com as ferramentas tecnológicas não é nada universal. Um estudo feito nos Estados Unidos com 4.374 estudantes de 13 instituições mostrou que a maioria tinha computadores pessoais e celulares. Mas só 12% deles tinham computadores de bolso. E uma minoria, cerca de 20%, já tinha criado conteúdo próprio para a internet.

ÉPOCA – De onde saiu essa expressão?
Bennett –
Às vezes, observamos uma atividade, e aquilo parece muito novo para nós. E não reconhecemos que não passa de uma extensão de um comportamento prévio. Sem muita análise aprofundada naquele momento. Além disso, algumas pessoas ganharam fama ao defender esse tipo de ideia. E isso as incentivou a alimentar esse mito. É algo que soa bem. Vem de acordo com nosso senso comum, embora ninguém tenha investigado de verdade.

ÉPOCA – Algumas pessoas propõem mudanças na educação para atender às necessidades dos nativos digitais. O que a senhora acha?
Bennett –
Isso é um grande perigo. Se mudarmos as práticas nas escolas para incorporar essas tecnologias e atender os chamados nativos digitais, poderemos deixar a educação inacessível para a maioria dos jovens, que não está tão integrada ao mundo digital. Poderá agravar a situação dos estudantes deixados para trás. Nós ainda não sabemos exatamente se a tecnologia realmente melhora o desempenho dos alunos. Os estudos feitos até hoje mostram que os estudantes gostam dos computadores nas salas. Mas não está bem definido se eles melhoram o resultado. Na Austrália, o governo forneceu laptops a todos os estudantes no meio da high school (equivalente ao ensino médio), de 15 e 16 anos. Eles levam os computadores para casa.

ÉPOCA – Por outro lado, como a lição que o professor dá no quadro-negro pode ser atraente para estudantes criados com o Facebook ou o Nintendo DS?
Bennett –
Não podemos perder de vista o que queremos com a educação, embora, claro, o engajamento seja importante. Também não podemos ter uma imagem estereotipada do professor. A maioria deles consegue envolver os estudantes em atividades estimulantes usando os equipamentos tradicionais da escola. Independentemente da tecnologia, deveríamos investir em ajudar os professores a tornar o ensino mais interativo e provocante.

ÉPOCA – E no mundo profissional? A geração que nasceu com a internet tem mais habilidades do que os mais velhos?
Bennett –
Aí certamente temos uma geração que é mais confiante no uso da tecnologia, que está mais disposta a aprender na base da tentativa e do erro. E isso faz diferença em um mundo onde as tarefas profissionais usam cada vez mais computadores e ferramentas que buscamos na internet e precisamos aprender a usar rapidamente. Por outro lado, embora eles entendam muito de computador, continuam sendo menos experientes em outras habilidades exigidas em cada profissão.

ÉPOCA – Os profissionais mais velhos podem se manter atualizados com as novas tecnologias, assim como os jovens?
Bennett –
De novo, estamos muito presos aos estereótipos. Quando pensamos no choque de gerações no trabalho, imaginamos homens de 60 anos comparados a jovens na faixa dos 20. Mas a maior parte das pessoas está nas idades intermediárias. Existem pessoas mais velhas que têm capacidade para aprender qualquer coisa. E também têm mais tempo e mais dinheiro para se dedicar a isso do que os jovens. O que acontece com frequência com esses profissionais mais velhos é que eles têm outras prioridades às quais dedicar sua energia. Enquanto você tiver saúde, conexão com o mundo e envolvimento com outras pessoas, terá meios para se atualizar com a tecnologia, sem limite de idade. Se estiver aposentado, até melhor, porque terá mais tempo para se dedicar a isso.

ÉPOCA – Faz sentido imaginar que essa nova geração é mais capaz de executar várias tarefas ao mesmo tempo?
Bennett –
Quando se fala em realizar várias coisas ao mesmo tempo, na verdade o que acontece é que ficamos pulando de uma tarefa para outra, com várias interrupções. Não estamos fazendo nada simultaneamente. Às vezes, é benéfico. Mas muitas vezes piora o resultado final. Por exemplo, quando você estuda algo, já está provado que consegue reter e compreender melhor aquilo se estiver bem focado.

"Enquanto você tiver saúde e envolvimento com outras pessoas,
poderá se atualizar com a tecnologia sem limite de idade "

ÉPOCA – Alguns estudos mostram que os alunos têm menos visão crítica quando selecionam referências na internet. Como resolver isso?
Bennett –
Primeiro, é importante saber que isso acontece. Depois, ser ativo e discutir com os alunos a importância de entender o contexto das informações e de procurar discernir o que são dados mais ou menos confiáveis. Mostrar que não dá para acreditar no primeiro link que o Google lhe dá. Em vários estudos com alunos da high school, se aquela tarefa não é muito importante para eles, ficam satisfeitos com informações colhidas rapidamente na internet, mesmo desconfiando que não sejam as mais confiáveis. Por outro lado, se é um trabalho mais decisivo para eles, então tomam mais cuidado na pesquisa. De certa forma, nós também fazemos isso sem a internet. Quando pesquiso em bibliotecas, posso pegar o primeiro livro que encontrar sobre um assunto ou tentar investigar mais, dependendo da circunstância. Essa capacidade para pesar quanto esforço você dedica a cada tarefa não é novidade da era digital. Há estudos que mostram como isso acontece há muito tempo com os estudantes. É da natureza humana.

ÉPOCA – Os campeões de digitação em teclado de celular têm todos menos de 15 anos. Essas habilidades farão diferença quando forem maiores?
Bennett –
Lembra-se do cubo mágico dos anos 80? Alguns adolescentes montavam o cubo com rapidez incrível. Parecia que tinham habilidades mentais superiores e fariam diferença na sociedade. Acontece que eles simplesmente tinham mais tempo e interesse para praticar.

ÉPOCA – E as habilidades desenvolvidas pelos jovens nos games serão úteis na vida adulta?
Bennett –
É uma suposição que não foi devidamente testada. Não sabemos se essas habilidades continuam eficientes em outro contexto.

ÉPOCA – A senhora, que nasceu antes da era da internet, acha que tem menos habilidade com tecnologia do que seus alunos?
Bennett –
Eles têm muito mais acesso à tecnologia do que eu tive quando tinha aquela idade. Por outro lado, eu estaria perdida sem meu laptop. Escolho o tipo de tecnologia de que preciso em cada momento. Não é uma questão etária. Algumas pessoas de minha idade têm tanta intimidade com tecnologia quanto meus estudantes de 18 anos.

ÉPOCA – A senhora gostaria de ter algum conhecimento tecnológico que seus alunos têm?
Bennett –
Espero que não.
  Fonte: Revista Época

Me adiciona. E me empresta algum

Os sites que permitem a pessoas emprestar dinheiro a desconhecidos se espalharam pelo mundo. Em 2010, a ideia vai estrear no Brasil
Rogério Cassimiro

PIONEIRO
Eldes Mattiuzzo, criador do site Fairplace. O ex-executivo do Unibanco quer desbravar o mercado de empréstimos pela internet no Brasil
Conseguir dinheiro emprestado, mundo afora, ficou bem mais difícil no período que se seguiu à explosão da crise financeira internacional, em 2008. Por medo de calote, os bancos dos países desenvolvidos passaram a emprestar menos e com juros mais altos. O ambiente inóspito para a maioria dos negócios representou uma bela oportunidade para um grupo de iniciativas inovadoras: os sites que promovem empréstimos entre pessoas pela internet. Esse tipo de crédito, que coloca indivíduos em contato e dispensa a intermediação de bancos, engatinhava desde 2005. Com a crise, disparou.
A empresa de consultoria Gartner calcula que o total de negociações do tipo passou dos US$ 650 milhões, com sites nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Alemanha e na China. Em 2010, o Brasil vai entrar nessa conta, com a abertura do primeiro site local de empréstimos entre pessoas.
A iniciativa é do economista paulista Eldes Mattiuzzo. Ele conheceu o serviço em 2008, no site americano Prosper, um dos pioneiros no segmento. Foi um momento de inflexão para Mattiuzzo, que gostou do conceito e, em março de 2009, depois de 14 anos trabalhando no Unibanco, deixou o emprego para iniciar o negócio próprio. Usou a experiência dos seis anos em que trabalhou na área de crédito para criar o Fairplace, que está no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec) da USP e deverá ir ao ar nesta semana. O site tenta desbravar um mercado virgem, repleto de incertezas que vão das questões regulatórias até o nível de desconfiança do usuário brasileiro.
Sites como o Fairplace são uma espécie de híbrido de redes sociais, como Facebook e Orkut, e sites de leilão, como o Mercado Livre. Eles reúnem pessoas interessadas em tomar empréstimos com outras interessadas em emprestar dinheiro. Há dois motivos principais para que alguém decida oferecer dinheiro na internet. O primeiro é o lucro: um empréstimo de risco médio para outra pessoa dá retorno de cerca de 3% ao mês em juros – mais vantajoso que a poupança, o CDB e outros investimentos de renda fixa, que não chegam a 1% ao mês (todo investimento de renda fixa se baseia em empréstimo de dinheiro para o governo, para o banco ou para outras empresas). O segundo motivo para emprestar é mais filosófico. Em sites como o Fairplace, o investidor avalia os perfis de quem precisa de dinheiro e escolhe para qual finalidade prefere emprestar. Ele pode decidir ajudar um estudante a comprar livros ou um vendedor de sucos a comprar uma máquina nova.
Para tentar conseguir um empréstimo, o interessado deve escrever um perfil, informar quanto deseja, o motivo do pedido e a taxa de juros que se dispõe a pagar. Além disso, o site pesquisa seu histórico de crédito e dá a ele uma classificação, numa escala de bons ou maus pagadores – os melhores, de baixo risco de calote, deverão pagar cerca de 1,2% de juros ao mês, e os piores, de alto risco, cerca de 8%, mas isso estará aberto a negociação. O potencial emprestador lê os diversos pedidos de empréstimo e escolhe aqueles cujo motivo, remuneração e nível de risco lhe agradem. As duas partes podem negociar as condições antes de fechar o acordo, e ambas pagam um porcentual ao site pelo serviço (leia no quadro abaixo) .
O que definirá o acordo é a lei de oferta e procura. Quem pede um empréstimo mas tem um histórico de pagamentos ruim (de alto risco), ou oferece juros muito baixos, ou quer destinar o dinheiro a um motivo desinteressante provavelmente não conseguirá muitos lances em seu leilão. Do outro lado da mesa de negociação, quem quiser emprestar dinheiro exigindo juros altos demais, com risco baixíssimo e para fins muito específicos talvez não realize nenhum negócio, porque outros emprestarão em condições mais amigáveis.
No exterior, os sites já superam os primeiros dilemas e começam a se sofisticar. Alguns se propõem a gerar lucro para os emprestadores; outros, a facilitar empréstimos filantrópicos, com juros mínimos. Um próximo passo podem ser as transações móveis. “Pelo telefone, os emprestadores poderão fazer transferências diretamente para aqueles tomadores já conhecidos e confiáveis”, diz Matt Flannery, fundador do site americano Kiva.
O site brasileiro ainda precisa conquistar a confiança dos usuários em questões mais prosaicas, como a segurança. A promessa é de alta seletividade. “Quem não seria aprovado para um empréstimo bancário não conseguiria dinheiro no Fairplace”, afirma Mattiuzzo. A avaliação de risco será terceirizada e feita pela empresa especializada Serasa Experian. O site vai conferir se o mesmo computador fez mais de um cadastro no site e se o usuário se encontra onde afirma estar. Os empréstimos poderão variar entre R$ 1.000 e R$ 10 mil. Segundo Mattiuzzo, o atrativo do site não será a facilidade de conseguir crédito, e sim as vantagens financeiras, com juros mais baixos ao tomador e retorno mais alto ao emprestador.

Mais informações:

Contratos de casamento

Como garantir um final sereno – mesmo quando o amor acaba
Parece estranho, ou no mínimo indelicado, falar sobre o fim do casamento antes mesmo de ele começar. Mas a discussão já é comum – e até estimulada – em escritórios de advocacia de todo o país. Mais de 400 mil casais aderiram ao contrato de união estável neste ano, um modelo que permite criar regras de convivência e misturar regimes de bens. É quase metade do número de casamentos feitos anualmente no Brasil. Ele evita disputas judiciais e burocracia em caso de rompimento. Será que serve para você?
Até pouco tempo atrás, o casamento civil era a única forma de união reconhecida pelo Estado. Foram os anarquistas que criaram o modelo de união informal mais tarde reconhecido como união estável. A ideia surgiu para evitar a presença do Estado em uma decisão que consideravam de foro íntimo. A prática de viver junto, no entanto, se tornou tão comum que a legislação deu direito de casado a quem vive junto: pensão alimentícia, INSS e partilha de bens. E criou um contrato alternativo para quem deseja seguir regras próprias para seu casamento, o de união estável.
Há diferenças radicais entre o casamento civil e o contrato de união estável. O casamento civil é um contrato de adesão que já vem pronto. A união estável é um documento feito pelo casal, à la carte, sem limite de espaço ou regras estabelecidas. Nele cabe tudo o que não for ilegal – de regras de convivência à escolha do regime de bens.
A principal vantagem da união estável diz respeito à separação. Como o contrato é privado e não envolve o governo, não é necessário abrir processo judicial em caso de separação nem encarar uma audiência de reconciliação, como acontece no casamento civil. Basta dissolver a parceria – cada um tomar seu rumo na vida – e cumprir o que foi definido em contrato.
O custo de um contrato de união estável é maior, cerca de R$ 2.500. O casamento civil, em cartório, custa em média R$ 250. Mas as despesas com o processo de separação ultrapassam os R$ 7 mil. Sem contar o tempo para se separar, estimado em dois anos, e o desgaste emocional para encarar a maratona.
O sociólogo americano Richard Sennett, professor de sociologia e história na London School of Economics, afirma que os contratos de união estável reforçam os laços conjugais. “Saber que é fácil perder o outro e que não vai haver ameaças ou cobranças no futuro ajuda a manter uma relação saudável”, diz Senett, especialista nesse tipo de contrato. “Só o amor e o respeito passam a importar.”
Aurelie e Morgan David
 de Lossy/Corbis/Latin Stock
GARANTIAS
O contrato de união estável garante ao casal os mesmos direitos de quem se casa no civil – e evita o desgaste da separação

O empresário Juliano Rocha, de 30 anos, e a economista Priscila Martins, de 32, casaram-se na igreja neste mês. Mas há dois anos assinaram um contrato de união estável. As 20 cláusulas tratam sobre respeito, pensão e herança. Tudo o que for conquistado depois do casamento, segundo eles, pertence aos dois. Mas há exceções: a coleção de carros antigos de Juliano – que é só dele – e as aplicações de risco de Priscila – de responsabilidade dela.
Juliano e Priscila não se consideram diferentes das demais famílias brasileiras. Pretendem ter filhos e viver juntos enquanto a relação for harmoniosa. Mas reconhecem que a separação é uma possibilidade real. As relações duram em média dez anos, de acordo com o IBGE. Só no ano passado foram mais de 100 mil separações judiciais.
Todas as vantagens da união estável, no entanto, deixam de existir se não há contrato formal. A comissária de bordo Nayana Rangel, de 44 anos, viveu sete anos em união estável antes de se casar. Como não lavrou uma escritura, luta na Justiça pela metade dos bens que acumulou com o ex-marido. Em um dossiê de 90 páginas, anexou depoimentos de testemunhas, cartões de Natal e fotos que tentam provar a convivência. “É desgastante passar por um processo tão longo para ter direito ao que é meu”, diz.
Há outras maneiras de se proteger de um final melancólico. A mais usual é o contrato pré-nupcial, que antecede o casamento civil. Ele não é feito apenas por milionários e celebridades. É útil para acertar as contas de casais comuns que dividem prestações de longo prazo. O que fazer se o amor acaba antes da entrega das chaves? Quem fica com as dívidas da festa? Se algo der errado, ele ameniza os problemas econômicos e deixa na memória apenas as boas lembranças.
Filipe Redondo
NA JUSTIÇA
Nayana no apartamento em que mora, em São Paulo. O imóvel está em disputa até que ela prove a união estável de sete anos

Fazer o seu ou pegar um pronto?
As principais diferenças entre o casamento civil e o contrato de união estável
CASAMENTO CIVIL CONTRATO DE UNIÃO ESTÁVEL
  • É um contrato de adesão. Direitos e deveres são definidos por lei – e não é possível alterá-los


  • O casal deve escolher apenas um entre os regimes de bens definidos pelo código civil


  • A separação exige a abertura de um processo judicial. Se o casal tem filhos e existe disputa por bens, são pelo menos três anos entre audiências e advogados


  • O casamento civil gera uma escritura pública. Qualquer mudança no status civil, de casado para divorciado, obriga o casal a submeter-se à burocracia do governo
  • É um contrato personalizado em que o casal cria suas próprias regras de convivência


  • Há liberdade para criar regimes mistos de bens: como a divisão proporcional ao salário de cada um


  • Basta cumprir o que foi negociado. o contrato deixa de valer a partir do momento em que estão separados. Não é preciso criar outro documento


  • Pode ser um contrato particular, com a presença de um advogado e reconhecido em cartório. O contrato garante os mesmos direitos que o casamento civil
Fonte: Revista Época

3D na sala de estar

LG dá a largada na comercialização dos televisores com tecnologia tridimensional no Brasil. Panasonic, Philips, Samsung e Sony prometem lançamentos ainda para este ano. Um problema para as empresas: o consumidor terá o que assistir?

Por Bruno Galo
Se você foi uma das dezenas de milhões de pessoas que assistiram Avatar em 3D no cinema e gostou, a boa notícia é que agora vai poder repetir a experiência no conforto do seu lar. E não só com a superprodução de James Cameron. Competições esportivas, como a Copa do Mundo, e grandes eventos, como o Carnaval, poderão ser vistos nos novíssimos televisores tridimensionais e seus indefectíveis – e ainda desconfortáveis – óculos 3D.
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Só de óculos: Fernanda Summa, da LG, com a primeira televisão com tecnologia 3D a
ser vendida no mercado brasileiro. Para desfrutar do efeito, só com os indefectíveis óculos


Quem dá a largada nesta revolução na sala de estar dos brasileiros é a LG. A empresa sul-coreana vai oferecer os primeiros aparelhos com a nova tecnologia a partir de abril. “Não esperamos uma demanda elevada neste começo”, disse à DINHEIRO Fernanda Summa, gerente de produtos da área de tevês da LG. “Mas, sem dúvida, será uma tendência forte, pois oferece uma experiência muito mais envolvente.” A LG, que não revela o preço dos seus modelos, é a primeira de um grande time que vai disputar esse mercado no Brasil.
Samsung, Panasonic, Philips e Sony prometem lançar seus aparelhos ainda em 2010. E as previsões de vendas chegam a ser otimistas. Nos EUA, 3 milhões de televisores 3D serão vendidos neste ano, o que representa 10% do mercado, acredita Tim Baxter, presidente da divisão de consumo da Samsung. O preço da tevê 3D é aproximadamente três vezes maior do que o de uma LCD de última geração: US$ 2,5 mil para um modelo de 40 polegadas e US$ 3,7 mil para um de 56 polegadas. Mesmo assim, a consultoria iSuppli estima que a venda de tevês com a tecnologia pode chegar a 78 milhões de unidades globalmente em 2015.
Mas se o futuro parece promissor, o presente é bem menos empolgante. “Não queremos frustrar a expectativa do público”, explica o porta-voz da Panasonic, Daniel Kawano. Ele se refere ao maior problema para quem comprar um aparelho 3D já nessa largada: a oferta bastante limitada de conteúdos tridimensionais. A situação é parecida à vivida por ocasião do lançamento dos primeiros televisores de alta definição, no início da década passada. Desta vez, ao menos, as coisas devem se resolver mais rapidamente.
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Cada olho vê uma imagem diferente. E o nosso cérebro interpreta e funde essas imagens. Assim, temos a sensação 3D.
A tecnologia da tevê 3D usa esses recursos para enganar o cérebro. Com uma câmera especial com duas lentes,
ela filma a imagem por 2 ângulos

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Depois, elas são exibidas de forma alternada em pelo menos 120 quadros por segundo (60 quadros para cada imagem).
Os óculos de lentes de LCD ativa fazem com que cada olho enxergue apenas uma das imagens por vez.
Ao combiná-las, o nosso cérebro interpreta como se fosse uma imagem tridimensional.
 

A captação de imagens em 3D, que exige o uso de câmeras especiais, com duas lentes, já está sendo feito, mas somente em caráter experimental no País. A operadora de tevê a cabo NET transmitiu o Carnaval nesta tecnologia e promete um canal 3D ainda neste ano. A Fifa vai transmitir 25 jogos em 3D da Copa do Mundo da África do Sul.
Os primeiros filmes no formato de alta definição Blu-Ray 3D são esperados para o final deste semestre. Para contornar esse problema, a Samsung promete um recurso que converte imagens 2D em 3D, com resultados satisfatórios. Os demais fabricantes não apostam nesse “quebra-galho”. Além disso, nem todos os aparelhos virão completos, já com os óculos. Caberá ao cliente adquiri-los separadamente, desembolsando assim mais um bom dinheiro para ter as almejadas imagens tridimensionais.
Mas nem todos estão otimistas. “Uma coisa é usar esses óculos numa sala de cinema”, diz Greg Ireland, analista da consultoria de tecnologia IDC. “Em casa, você está com outras pessoas numa sala de estar, movimentando-se para a cozinha ou fazendo outras coisas.” É esperar para ver. No cinema, em apenas um ano, o 3D evoluiu de aposta para a salvação da indústria.
Nada impede que um fenômeno semelhante se repita agora com as tevês. Uma pesquisa da consultoria NPD Group revelou que um terço dos consumidores norte-americanos já estão interessados nos novos televisores. “No futuro, as pessoas vão querer todo o conteúdo em 3D”, disse Jon Landau, produtor de Avatar, durante apresentação em um evento da indústria eletroeletrônica nos EUA. A pergunta, ainda sem resposta, de agora é: quanto tempo vai demorar para esse futuro chegar?

Um raio X das empresas de telefonia

As principais empresas de telefonia brasileiras já divulgaram seus balanços de 2009. Confira os indicadores

por Ralphe Manzoni jr
Com eles, é possível saber quais as teles que foram bem e as que tiveram problemas no ano passado. Confira os principais indicadores, divididos por operadoras celulares e fixas.
Operadoras celulares
O Brasil terminou 2009 com 174 milhões de linhas de celulares, um crescimento de 14,4%. Até fevereiro deste ano, a base já havia crescido para 176,7 milhões. A Vivo foi a empresa que
teve o melhor desempenho. Confira:
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160.jpgOperadoras fixas
O número de telefones fixos manteve-se estável em 2009, atingindo 41,7 milhões de terminais de serviço. As grandes empresas de telefonia, como Oi e Telefônica, vêm perdendo clientes, principalmente para a Embratel e a GVT. Confira os indicadores.

161.jpgJobs na tevê
Ele é lendário, temperamental e considerado o profeta da inovação. A influência de Steve Jobs, CEO da Apple, cresce a cada dia. Agora, ele servirá de inspiração para um seriado da tevê dos EUA. O iCon será uma sátira a um CEO fictício do Vale do Silício que tem um ego absurdamente inflado.  O show poderia ser inspirado em vários executivos. Mas há um detalhe. O texto ficará por conta de Dan Lyons, que colaborou na revista Newsweek, mas ficou mais conhecido por escrever um blog chamado Fake Steve Jobs (Falso Steve Jobs), no qual satiriza o dono da Apple. Ainda não há data para a estreia do novo show.
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Alibaba.com aterrissa no Brasil
O portal de comércio eletrônico anunciou o início oficial de suas operações no País. O serviço de B2B (voltado para negócios entre empresas) é o mais bem-sucedido do gênero na China e já tem 150 mil usuários registrados no Brasil. Ele vai operar em parceria com a Ludatrade Tecnologia, que tem sede em Hong Kong. O site pretende promover a exportação de produtos de pequenas e médias empresas brasileiras. O Alibaba.com facilitará ainda o acesso das companhias a mais de 45 milhões de fornecedores e compradores de 240 países.

Prateleira
POP GD510 – da LG. O modelo tem cara de smartphone, mas não é. Bonito e leve, o aparelho tem câmera de 3,2 MP, até 8 GB de espaço interno via microSD, Bluetooth e rádio FM. A tela de 3 polegadas é sensível ao toque. Por R$ 699 desbloqueado
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TV Digital 3.4 – da X-Sound!. Esta tevê lê diversos formatos de arquivos de vídeo. Com tela LCD de 3,4 polegadas, o aparelho sintoniza até 15 canais. Não permite gravação. Tem função de MP3. Por R$ 549
156.jpgTradutor no BlackBerry
Não é só a Apple que tem sua loja de aplicativos para celulares. O BlackBerry, que vai ser fabricado no Brasil, tem a sua, chamada App World. E um dos aplicativos mais baixados é o Navita Translator, um tradutor gratuito com 52 idiomas desenvolvido pela brasileira Navita, especializada em aplicações para o smartphone da RIM. Lançado em março de 2009, ele já foi baixado 900 mil vezes até agora.

Resposta Instantânea
154.jpgMarco Antonio Stefanini, presidente da Stefanini IT Solutions
A crise afetou os negócios da Stefanini no ano passado?
Crescemos 82% nos últimos dois anos e fechamos 2009 com um faturamento bruto de R$ 674 milhões. Devemos crescer 25% em 2010. Em dois anos, estimo que vamos faturar mais de R$ 1 bilhão. Minha intenção é expandir as operações internacionais.

Quanto representam as operações internacionais no faturamento da Stefanini?
Estamos em 16 países. No ano passado, essas operações representaram 22% da receita bruta. Crescemos de forma orgânica. A partir de agora, vamos ser agressivos e começar uma política de aquisições para acelerar a expansão. Em até três anos, quero que as receitas vindas do Exterior representem 50% do nosso faturamento.

Quanto o sr. vai investir em aquisições?
Tenho US$ 100 milhões que vão ser investidos nos próximos dois anos em compras no Brasil e no Exterior. No mercado local, o foco será em adquirir empresas pequenas. Internacionalmente, vamos avaliar com calma e comprar grandes companhias.

 

Por que Zuckerberg não olha para o Brasil?

A maior rede social do mundo é também a que mais cresce no País. Mas o Facebook parece dar as costas para um dos mercados mais atraentes para comunidades online do planeta

Por Ralphe Manzoni Jr. e Bruno Galo
O jovem fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, 25 anos, visitou o Brasil em agosto de 2009. Encontrou-se com blogueiros, lançou um prêmio para desenvolvedores, falou com a imprensa, mas não fez nenhum anúncio importante. Sua passagem pelo País, no entanto, resultou em um crescimento expressivo de audiência. Ela saltou de 4,2 milhões para 8 milhões de pessoas em fevereiro de 2010.
Os seus principais concorrentes, o Orkut e o Twitter, no mesmo período, estagnaram-se. O Brasil é o país que proporcionalmente mais acessa comunidades online no mundo, de acordo com o Ibope Nielsen Online. De cada 100 pessoas que navegam na internet, 86 vão a sites do gênero. Na Espanha, segunda colocada, são 77.
89.jpg  "Não conseguiremos cumprir nossa missão se não fizermos sucesso no Brasil"
Mark Zuckerberg > CEO do Facebook

Nos EUA, 74. “Não conseguiremos cumprir nossa missão se não fizermos sucesso no Brasil”, declarou o empreendedor, que tem uma fortuna estimada em US$ 4 bilhões, no período em que esteve no País.  Mas não se iluda com as palavras de Zuckerberg. O Facebook sequer tem uma estrutura própria no Brasil. Mais: seus anúncios são vendidos por um concorrente.
E não há nenhum indício de que isto mudará radicalmente nos próximos meses. Com mais de 400 milhões de usuários cadastrados no mundo, por que o Facebook, que é a maior comunidade online do planeta, ainda ignora um dos mercados mais atraentes quando o assunto é rede social?
A resposta imediata é o Orkut. O site do Google não deu certo em nenhum lugar, a não ser no Brasil e na Índia. De cada 100 pessoas que acessam redes sociais no País, 73 preferem o Orkut. É uma barreira de entrada e tanto para a empresa de Zuckerberg. Mas que vem sendo quebrada lentamente.

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A comunidade online do Google está estagnada (confira gráfico acima). É verdade, que em um patamar bem alto. O Facebook, ao contrário, vem crescendo mês a mês e deve superar em breve o grande fenômeno de 2009: o serviço de microblog Twitter. “O Facebook é um ótimo negócio que gera riqueza e divulgação para empresas e produtos. Só falta agora ele mesmo conseguir se rentabilizar”, disse à DINHEIRO Luli Radfahrer, professor de comunicação digital da USP.
Esse é outro problema no Brasil. A forma como o site ganha dinheiro é basicamente por meio de anúncio online. E quem vende a publicidade no País é a .Fox Networks, empresa da News Corp., que pertence ao magnata da mídia Rupert Murdoch. Para quem não se lembra, Murdoch é dono do MySpace, outra rede social que é concorrente do Facebook. Por aqui, a .Fox Networks vende os dois. Mas faz a ressalva que criou uma unidade separada para comercializar o MySpace.
Nos EUA, empresas como Burger King, Honda, Johnson & Johnson e Unilever investem no site. Segundo o Facebook, 80% dos maiores anunciantes norte-americanos já fizeram alguma ação promocional . “O Facebook quer construir uma grande base de usuários e depois ‘vender’ ativos relacionados a esta base”, diz Marcelo Coutinho, consultor do Ibope e professor da Fundação Getulio Vargas em São Paulo. “Podem ser anúncios, bancos de dados sobre pessoas interessadas em bens ou serviços ou informações sobre comportamento dos internautas.”
O único indício de que a postura do Facebook pode mudar está em um classificado em seu site de carreira e emprego de que pretende contratar um gerente de negócios para o Brasil. Não há nenhuma data para quando isso vai acontecer. “O contrato para o cargo é de 6 a 12 meses”, diz o comunicado. Na semana passada, o Facebook anunciou que vai abrir seu primeiro escritório na Ásia.
A Índia, onde o Orkut lidera, foi o local escolhido. Internacionalmente, a rede social está em Dublin (Irlanda), Milão (Itália), Paris (França), Estocolmo (Suécia), Sydney (Austrália) e Toronto (Canadá). Não falta um escritório na América Latina?