A PARTIR DE HOJE UM CANAL SÓ PARA ELAS.

segunda-feira

O criador do Skype se conecta ao Brasil

Niklas Zennström, um dos maiores empreendedores da Internet, se prepara para investir em companhias pontocom brasileiras. E mais: ele afirma que a revolução criada por sua empresa entra em uma nova fase

Por Carlos Sambrana e Ralphe Manzoni Jr.

Ouça um resumo da reportagem sobre os planos do criador do Skype no Brasil

No universo da tecnologia, alguns empreendedores são cultuados como lendas vivas na mente de milhões de pessoas. Bill Gates, o criador da Microsoft, sempre será lembrado por ter permitido a popularização dos PCs com o sistema operacional Windows. Steve Jobs, da Apple, já entrou para a história como aquele que tornou o uso da tecnologia mais amigável com o iPod e seus filhotes.
Há um terceiro visionário da era digital que caminha para figurar nesse rol de ícones. Seu nome é Niklas Zennström, 43 anos, o sueco que criou o Kazaa, site de compartilhamento de música e vídeo, e também o Skype, empresa de telefonia pela internet. Mais do que ter revolucionado a indústria do entretenimento e das telecomunicações, Zennström desafiou oligopólios com suas invenções.

129.jpg
"Espero fazer grandes investimentos no Brasil " Niklas Zennström, fundador do Skype
Por isso, cada movimento desse pioneiro da web é acompanhado com atenção. E seu próximo passo será dado no Brasil.  À frente do Atomico, uma empresa de venture capital, cujo primeiro fundo de US$ 40 milhões foi criado em 2006, Zennström acaba de anunciar o lançamento de uma segunda leva de recursos no valor de US$ 165 milhões.
Com a meta de comprar companhias da internet, ele chega ao País na primeira semana de maio para analisar novos negócios no mercado nacional. “Espero fazer grandes investimentos no Brasil”, disse Zennström com exclusividade à DINHEIRO. O foco em empresas pontocom não significa que a revolução provocada pelo Skype esteja concluída.
Ao contrário. Na quinta-feira 25, a operadora de celular Verizon Wireless se tornou a primeira do mundo a iniciar a venda de celulares com o aplicativo Skype. E abriu as portas de um novo e bilionário mercado: o das ligações VoIP por telefonia móvel.
O desembarque de Zennström no Brasil não é recente. Sem fazer alarde, seus sócios e executivos estão analisando o mercado nacional há cerca de um ano e meio. O homem de confiança do empresário no País é o executivo Carlos Pires, que já havia trabalhado no Skype e participou do processo de lançamento de empresas como Nextel por aqui. Outro grande indicador das boas intenções de Zennström no Brasil é que seu outro sócio no Atomico, o americano Geoffrey Prentice, primeiro funcionário do Skype, tem visitado o País com frequência.

130.jpg
Prentice (à esq.) e Pires, do atomico, investem em empresas iniciantes de internet, como a rede social LAST.FM
“Tenho ficado, em média, uma semana por mês no Brasil”, disse Prentice à DINHEIRO. “Quando cheguei aqui fiquei impressionado como os brasileiros usam internet.” Os investidores buscam companhias com grande potencial de crescimento, modelo de negócio inovador e uma equipe de profissionais com visão global. É um trabalho que se assemelha ao de um garimpeiro em busca de ouro. Prentice não dá pistas de seus alvos por aqui, mas cita o Buscapé, recentemente vendido por R$ 600 milhões para o grupo sul-africano Naspers, como um caso de sucesso da web nacional.
Identificar oportunidades é o grande desafio do Atomico. A cada mês,  o fundo recebe mais de 200 propostas de empresas buscando investimentos. Zennström, que se inspira em Ingvar Kamprad, criador da rede de móveis Ikea, e também no megainvestidor Warren Buffett, analisa cada detalhe com muita atenção. A primeira leva de investimentos realizada pelo Atomico, em 2006, prova que isso é crucial.
Uma das empresas compradas por Zennström foi uma comunidade online para aficionados por música chamada Last.FM. Foi um tiro certeiro. Criada em 2003, na Inglaterra, parte dela foi adquirida pelo Atomico em 2006 e, um ano depois, era vendida ao grupo CBS por US$ 280 milhões. Estima-se que o grupo tenha faturado 12 vezes mais do que aplicou. Mas nem sempre é assim.
Tempos atrás a equipe de Zennström foi procurada pelos fundadores do Playfish, site de jogos online. Mas ninguém acreditou muito no negócio e Zennström não pôs dinheiro na empresa. Em novembro do ano passado, a turma do Atomico voltou a ter notícias do site: o Playfish havia sido vendido por US$ 400 milhões para a empresa de games Electronic Art (EA).

131.jpg
Josh Silverman, CEO do Skype: o executivo negocia com operadoras de celulares brasileiras
Competidor daqueles que custam a assimilar a perda de uma batalha, Zennström usa as provas de vela náutica ou de lanchas offshore, esportes que ele pratica com frequência, para relaxar e traçar seus planos. “É um esporte que requer estratégia, uso da tecnologia correta e proporciona muita adrenalina”, explica. E apostar em empresas embrionárias também é um “esporte” de alto risco. Para minimizá-los, o Atomico, que também tem Janus Friis, o cofundador do Skype, como sócio, trabalha de uma maneira muito peculiar.
A empresa geralmente compra até 30% da companhia escolhida e assume o papel de líder do negócio. A ideia é repetir a trajetória do Skype e transformar os sites em sucessos globais. Para isso, o Atomico conta com tentáculos espalhados pelo mundo inteiro. A equação é simples. Quanto maior o número de países em que estiver presente, maior o tráfego e, consequentemente, maior será o seu valor.
O trabalho de Carlos Pires aqui no Brasil é, além de encontrar boas oportunidades, fechar contratos com grandes portais para que abriguem os sites em que o Atômico investe. O iG, por exemplo, vai hospedar o WooMe, portal de relacionamento no qual é possível visualizar o parceiro em tempo real.

132.jpg
Por mais que Zennström tente emplacar outros fenômenos da web, será difícil criar algo tão revolucionário como o Skype, empresa da qual ele voltou a se tornar sócio em novembro do ano passado. Comprado pelo eBay por US$ 3,1 bilhões, em 2005, em uma das maiores transações depois do estouro da bolha da internet nos anos 2000, ele mergulhou no limbo.
A falta de sinergia fez o site de leilões americano vender 70% da companhia para um grupo de investidores por US$ 1,9 bilhão. Uma briga na Justiça, que terminou em acordo, trouxe de volta os fundadores para o negócio. Se o Skype fosse uma empresa de telefonia tradicional, seria a maior do mundo.
Com 560 milhões de usuários, a operação cresce a uma velocidade impressionante: 400 mil novas pessoas baixam o software a cada dia. Se mantiver esse ritmo, até o final do ano, vai conquistar 110 milhões de novos consumidores. A China Telecom, maior operadora de telecomunicações do planeta, tem 215 milhões de assinantes de telefonia fixa, menos da metade do Skype.
Em 2009, ele foi responsável por 12% do tráfego de ligações internacionais do mundo. “O Brasil é um mercado-chave para o Skype”, declarou com exclusividade à DINHEIRO o CEO da empresa, Josh Silverman. No comando do Skype desde fevereiro de 2008, este fã do game Guitar Hero e pai de dois filhos tem a missão de continuar a revolução da telefonia começada por Niklas Zennström e Janus Friis, em 2003.

133.jpg
Quando surgiu, o Skype foi declarado o inimigo público número 1 das empresas de telefonia fixa. Ele permitia que as pessoas se comunicassem pela internet de graça, o que fez com que milhões de pessoas abandonassem seus telefones para falar por meio do software. Bastava uma conexão à internet para evitar as tarifas das operadoras de telecom.
Agora, o Skype avança sobre as teles móveis, numa onda que promete ser bem maior do que a primeira. “A mobilidade é uma importante oportunidade para nós”, acredita Silverman. O executivo está de olho em um mercado de 300 milhões de pessoas que vão usar um aplicativo como o Skype até 2013. As receitas globais com esse tipo de serviço são estimadas em US$ 35 bilhões, segundo a consultoria norte-americana In-Stat.
Na semana passada, a mais ousada aposta do Skype neste terreno finalmente foi a campo. A maior operadora dos EUA, Verizon Wireless, começou a vender nove celulares com o popular aplicativo de voz pela internet. Os assinantes dos serviços de dados vão poder falar com outros usuários sem pagar nada. Isso significa que a Verizon Wireless vai perder receita com as chamadas.
Mas a companhia espera que o software Skype atraia novos assinantes para seu serviço de banda larga móvel para compensar esta queda. Não é uma atitude comum. Ao redor do mundo, a prática é bloquear o Skype nas redes 3G. É o que faz a AT&T, nos Estados Unidos, e a Deutsche Telekom, na Alemanha.
“Estamos em negociações com outras operadoras ao redor do mundo”, diz Silverman. “E as empresas de telefonia móvel brasileiras têm mostrado interesse.” O executivo, no entanto, não revela com quem tem conversado no Brasil. Atualmente, o aplicativo Skype pode ser encontrado em celulares iPhone, BlackBerry e Android. Até a Nokia, maior fabricante de aparelhos móveis do mundo, vai adotar o software em seus equipamentos que rodam o sistema Symbian. É um impulso de 200 milhões de smartphones espalhados pelo mundo – o que faltava para o Skype marcar presença em todos os sistemas operacionais que existem e, definitivamente, se tornar a ferramenta móvel mais usada ao redor do planeta.

Não faltará resistência a essa nova estratégia. Mas o Skype já enfrentou essa batalha com as operadoras fixas.  “O futuro da telefonia passa pela internet”, afirma João Paulo Bruder, analista de telecomunicações da consultoria IDC. Niklas Zennström quer agora revolucionar a telefonia móvel. Alguém duvida que conseguirá?


Entrevista: " O Skype ainda tem um tremendo potencial ”

127.jpg

O sueco Niklas Zennström, considerado um gênio da internet por ter criado ícones como o Kazaa e o Skype, concedeu a seguinte entrevista à DINHEIRO:
Com as suas invenções, o sr. comprou briga com as gravadoras e as empresas de telefonia. Houve muita pressão?
Nunca tivemos a intenção de brigar com as gravadoras, isso apenas aconteceu. Criamos o Kazaa com o pensamento de que poderíamos transformar o modo como as pessoas escutavam música e assistiam a filmes. O problema foi que as gravadoras e os estúdios de cinema não compartilharam a nossa visão. Diversas vezes, tentamos marcar reuniões com eles para propor que o Kazaa tivesse planos de assinatura. Mas todos os nossos pedidos foram rejeitados.

O sr. não teve resposta?

Na época, só ouvi falar deles quando decidiram que eu era o inimigo público número 1 e resolveram nos processar. Uma lição que aprendi é que tempo é fundamental e que a revolução tecnológica aconteceu tão rapidamente que as gravadoras não conseguiriam se adaptar a esse novo modelo da noite para o dia.

Quanto tempo essa disputa durou?

Foram quatro anos e durante o processo foi uma forte pressão sobre nós. Essa briga terminou em 2006 e hoje temos uma boa relação com as gravadoras.

E quanto às empresas de telecomunicações? Elas reclamaram do Skype?
Nós nunca realmente tivemos uma briga com as empresas de telecomunicações. Mas nós somos amigos e inimigos ao mesmo tempo, já que o Skype movimenta um bom tráfego de dados para elas e também compete com elas no varejo.

Mas o Skype não é uma ameaça para as empresas de telecomunicações?
Se você opera numa indústria competitiva, qualquer competidor é uma ameaça. O Skype é uma ameaça para as empresas de telefonia porque tem uma oferta competitiva. Ao mesmo tempo, está fazendo parcerias com as operadoras, como a Verizon, nos EUA, que está incluindo o Skype em seus celulares. Neste caso, é uma oportunidade.

Por ter criado serviços gratuitos, muitos o chamam de Robin Hood da internet. O que o sr. pensa sobre isso?
Já escutei isso algumas vezes, mas as pessoas que dizem isso não me conhecem. O que eu faço é achar oportunidades, companhias e soluções que transformam a indústria, que permita ao consumidor fazer algo radicalmente barato e melhor com uma nova tecnologia.

Que empreendedores o inspiram?
Steve Jobs e Bill Gates. Ambos lideraram e criaram uma indústria. Também admiro o investidor Warren Buffett, uma pessoa muito sensata. Tudo o que ele diz faz muito sentido. Na Suécia, de onde venho, há muitos empreendedores para admirar, como Igvar Kamprad, fundador da Ikea. Mas, quando encontro empreendedores donos das empresas nas quais o Atomico investe, me sinto muito inspirado por eles também.

Como o sr. se sente sabendo que milhões de pessoas usam o Skype?
Uma das melhores coisas de ser um dos fundadores do Skype é que, em qualquer lugar do mundo aonde vou, as pessoas são muito agradecidas pelo que o Skype significa para elas. Elas podem manter contato com os amigos e com a família ao redor do mundo. Obviamente é algo que me deixa muito orgulhoso.

Falando nisso, o sr. ainda usa telefone?
Sim, o que significa que o Skype ainda tem muito potencial. Economizei muito dinheiro usando Skype no meu iPhone.

E quanto pretende investir no Brasil?
O Brasil é um mercado interessante e vibrante. Pessoalmente, acredito que há várias oportunidades. Mas não destinamos dinheiro para nenhum país específico para que possamos investir nas melhores oportunidades. Então, espero fazer grandes investimentos no País.


Foi um erro vender o Skype para o eBay?
Não. Naquela época, muitas companhias estavam interessadas em comprar o Skype. Gerenciamos o processo para conseguir um bom preço. Todos os acionistas ficaram felizes com o resultado. No ano passado, o eBay vendeu a maioria das ações do Skype por acreditar que havia poucas sinergias.  Agora, estou de volta como acionista. Acredito que o Skype ainda tem um tremendo potencial.

Fonte: Istoé Dinheiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AGRADEÇO SEU COMENTÁRIO, E GOSTARIA DA SUA OPINIÃO SOBRE O QUE GOSTARIA DE VER NO BLOG.