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sexta-feira

O caçador corcunda

Descoberta de dinossauro na Espanha reforça a tese do parentesco com as aves e mostra que os répteis vagavam por todo o planeta

André Julião
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PRESERVADO
Paleontólogos examinam fóssil do dinossauro achado na Espanha
A descoberta do fóssil do Concavenator corcovatus, realizada por um grupo de paleontólogos espanhóis, joga novas luzes sobre quase tudo o que sabíamos até agora a respeito dos terópodes, grupo de dinossauros ao qual pertencem o Tiranossauro Rex e o Velociraptor. O es­tudo sobre esse ser um tanto incomum foi publicado na semana passada pela revista especializada “Nature”. O “caçador corcunda de Cuenca” – o significado do seu nome, por causa da cidade em que foi encontrado na Espanha – possuía uma protuberância nas costas e estruturas semelhantes a asas nas patas dianteiras. Essas últimas evidências se somam a outras sobre o conhecido parentesco entre esses répteis e as aves.
O predador de seis metros de comprimento viveu no período Cretáceo Inferior, 125 milhões de anos atrás. O esqueleto, desenterrado por uma equipe de paleontólogos espanhóis, é um dos mais bem preservados e mais completos de um dinossauro carnívoro já encontrado na Europa. Ele representa não só uma nova espécie como um novo gênero, o dos carcharodontosaurrídeos. Além disso, a descoberta derruba as evidências de que grandes carnívoros como esse teriam vivido apenas no Hemisfério Sul.
“A corcunda é uma característica única desse dinossauro. Sua função, porém, é desconhecida”, disse à ISTOÉ Francisco Ortega, líder do estudo. O paleontólogo espanhol especula, no entanto, que a protuberância parecida com a de alguns mamíferos como bois e camelos – porém com ossos – servisse para a comunicação visual entre os indivíduos da mesma espécie ou para a regulação da temperatura corporal. Outra parte da anatomia até então desconhecida em dinossauros desse tamanho são as estruturas muito parecidas com as que suportam as penas nas asas das aves. São como pequenas falanges, acopladas às patas dianteiras. “Essa característica havia sido encontrada em alguns dinossauros menores, muito próximos a aves, como o Velociraptor”, explica Ortega. “Surpreendentemente, o Concavenator, quatro vezes maior que este e a princípio muito primitivo para ter penas, também tinha essas pequenas saliências”, diz o pesquisador.
O “caçador corcunda” era um predador típico. Caçava animais com algumas dezenas de centímetros e até outros com a metade do seu tamanho. Isso inclui praticamente todos os vertebrados terrestres conhecidos daquela área. Outros dinossauros, crocodilos e mesmo mamíferos primitivos podiam servir de refeição.
O Concavenator viveu num período em que a Terra era dividida em dois grandes continentes, Laurásia (território que depois se dividiu em América do Norte, Europa e Ásia) e Gonduana (Antártica, América do Sul, África e Oceania). Até a descoberta na Espanha, os estudiosos acreditavam que os grandes predadores teriam vivido apenas no sul do planeta. “Começamos a reescrever a história desse grupo de carnívoros”, diz Ortega. Com os dados obtidos agora, será possível identificar restos de dinossauros até então impossíveis de ser comparados com alguma espécie conhecida. “É comum encontrar fósseis fragmentados a ponto de tornar a identificação impossível, pois não dá para compará-los com espécies bem estudadas”, afirma o espanhol. Agora que os paleontólogos conhecem bem o “novo” réptil, um mundo de feras inimagináveis pode estar para ser revelado.
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