JURANDIR SOARES
Nenhuma das visitas realizadas pelo presidente Lula até agora foi tão polêmica quanto esta ao Oriente Médio, recém-finalizada. Lula não falou muito, mas passou muitos e significativos recados. Vamos a eles. O presidente brasileiro se negou a visitar o túmulo de Theodor Herzl, o fundador do moderno sionismo. Mas visitou o Museu do Holocausto. E aí passou um recado direto para o iraniano Ahmadinejad, que nega a existência do Holocausto. Lula disse que todo dirigente deveria visitar aquele local e que aquele fato, o Holocausto, não deve se repetir jamais. Lula passou um outro recado a Ahmadinejad ao defender a existência do Estado de Israel sob fronteiras definidas e seguras. Ou seja, disse para o iraniano que Israel tem o direito de existir, contrariamente ao que prega o fanático dirigente de Teerã. Passou para este mais um recado, ao propugnar pela existência de um Oriente Médio sem armas nucleares. Uma das maiores preocupações de Israel e de países do Ocidente é com a possibilidade de o Irã chegar até a bomba atômica.
Mas, ao mesmo tempo, Lula passou alguns recados a Israel. Na mesma ocasião em que defendeu a existência de um Estado de Israel sob fronteiras definidas e seguras, defendeu também a existência de um Estado Palestino, sob fronteiras definidas e seguras. Algo para o que o atual governo de Israel não vem colaborando. Outro aspecto: na medida em que pediu um Oriente Médio sem armas nucleares, não falou somente para o Irã. Falou para todos os interlocutores da região, onde se inclui Israel. E, segundo consta, Israel, que não é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, possui sua bomba atômica. Na Cisjordânia, Lula visitou o túmulo de Yasser Arafat. Em Jerusalém, não visitou o túmulo de Herzl, mas sim o Museu do Holocausto, que é muito mais significativo. Tentou dar o equilíbrio. E está tentando também arrastar a Síria para as negociações.
O governo Lula percebeu que o Brasil pode desempenhar no Oriente Médio um papel diferente do exercido pelas grandes potências. Essas já demonstraram que têm um poder de ação limitado perante os agentes da região. Já o Brasil, por se tratar de um país em desenvolvimento e por ter na presidência um líder carismático e grande negociador, se propõe a agir junto a países que têm ficado marginalizados do processo negociador, como a Síria e o Irã, por exemplo. Foi justamente por isto que Lula, ao retornar para o Brasil partindo da Jordânia, autorizou a viagem do chanceler Celso Amorim à Síria. Com a missão, inclusive, de convidar o ditador Bashar Al Assad a visitar o Brasil. Desde que a visita, logicamente, não coincida com a chegada por aqui do primeiro-ministro israelense, Benyamin Netanyhau, que também está com viagem programada. A Síria é um interlocutor forte em duas questões. Uma, é nas negociações entre isralenses e palestinos, pela influência que exerce sobre o grupo radical Hamas. Só que, na negociação com Israel, a Síria também tem o seu interesse específico: as Colinas de Golan, território que perdeu para Israel na guerra de 1967. Mas a Síria também tem influência sobre o Irã. E aí está a questão mais crucial hoje no Oriente Médio. E, por isso, Amorim foi a Damasco, buscando um aliado para convencer o regime dos aiatolás a aceitar um acordo com o Ocidente sobre o seu programa nuclear.
Portanto, a curta passagem de Lula pelo Oriente Médio foi carregada de mensagens que só são entendidas na linguagem diplomática.
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